Factos saborosos

Osite do `The Times' trazia a seguinte notícia na secção `Relacionamentos': “Sexo aos 74 anos pode ser tão prazeroso e intenso quanto era aos 50. Um novo livro diz que uma boa relação sexual é a chave para o casamento bem-sucedido dos Biden. Elaine Kingett revela porque ela e suas amigas “não desistiram no quarto”. Imagino que até os leitores de 20 anos tenham vontade de ler o resto, mas a realidade é que não sendo subscritora do jornal inglês, não sabendo o título do livro em questão, só posso desconfiar com a arrogância dos mais novos. Afinal, Joe Biden, que tem notoriamente de se poupar para a campanha eleitoral – de Washington à Flórida vão 50 estados –, comemora 82 anos no mês das eleições para a Casa Branca.

A propósito da felicidade conjugal dos Biden, lembrei-me de há uns anos ter feito uma reportagem sobre ‘sexo na terceira idade’ e de como o tema teve melindre superlativo por, muito contrariada, ter-me descoberto com pruridos de abordar o assunto com os entrevistados porque eles próprios igualmente os tinham comigo; é o que dá o “respeitinho”. É que se, por um lado,

“Em vez de sexo, entrava a matar com um: `Então e o afeto?'”

os entrevistados do género masculino se sentiam obrigados a armar-se ao galaró, entre evasivas, eufemismos e gargalhadas, porque a interlocutora (eu própria) “era uma senhora”; por outro, se entrevistava o meu próprio género, via-me sem fôlego, soterrada por figuras de estilo e desse modo cerceada na minha própria emancipação. Era de tal maneira que, às tantas, dava por mim em aceso conflito interior, por me sentir obrigada a evitar a pergunta direta e, antes da presidência de Marcelo tornar banal a palavra, em vez de sexo, entrava a matar com um: “Então e o afeto?”

Vem isto a propósito das estatísticas do Eurostat que mostram que a idade média da UE é a dos quarentões e de como a baixa natalidade e o prolongamento da esperança de vida obrigam à alteração do paradigma social, bem como das metáforas. Quanto à reportagem, saiu cheia de saborosos factos.