Resistir na Capela do Rato
Opúblico que acompanhava a actividade dos cantores da resistência dilatou-se quando sectores importantes da comunidade católica começaram a assumir de forma organizada a sua oposição à guerra colonial e à violência da repressão. Foi deste modo que os cantores políticos começaram a receber convites para sessões organizadas por igrejas que dependiam de padres com ideias progressistas, o que se acentuou a partir de 1969, sobretudo durante a crise académica que envolveu Lisboa, Coimbra e Porto.
Um padre com ideias progressistas, que tivera paróquia no concelho do Barreiro, juntou-se às vozes da resistência, musicou poemas de Sophia de Mello Breyner e passou a ter uma relação muito próxima com José Afonso, participando em Paris na gravação do LP ‘Cantigas do Maio’. Chamava-se Francisco Fanhais e tornou-se um dos nomes mais destacados da canção política.
Neste contexto, assumiu grande importância a vigília da Capela do Rato, realizada em 30 de Dezembro de 1972, por iniciativa do ‘Boletim Anti-Colonial’ e com coordenação de Luís Moita, de Isabel Pi
Francisco Fanhais tornou-se um dos mais destacados da canção política
mentel e de Maria da Conceição Moita. Os promotores surpreenderam o padre João Seabra Dinis com a declaração de que pretendiam promover uma reflexão sobre a guerra colonial e fazer uma greve da fome. No dia 31 de Dezembro, a polícia de choque invadiu a igreja e deteve cerca de 50 pessoas. As Brigadas Revolucionárias lançaram petardos em Lisboa e arredores, apelando à solidariedade com os grevistas da fome e denunciando a violência da repressão.
Os católicos do Porto solidarizaram-se com os que protestavam no Rato. O cardeal-patriarca condenou a acção repressiva do Estado Novo.
A vigília da Capela do Rato mobilizou ainda mais católicos contra a guerra e a ditadura. Os cantores políticos estiveram solidários com esta contestação. Francisco Fanhais seria uma figura central do canto político, vivendo um período no exílio, de onde regressou no imediato pós-25 de Abril.