O sonho do homem comum
“Pellegrini também está em sites de conteúdos para adultos”
Osite internacional do jornal desportivo `A Marca' escreveu: “Quem é Emily Pellegrini? O modelo de Inteligência Artificial que estrelas do desporto e milionários tentam engatar.” O assunto, que aparentemente se esgotaria nas palavras do título, pelo simples facto de a protagonista não ter existência real, acaba desenvolvido numa longa peça no jornal espanhol fundado em papel no ano 1938, quando as mulheres ainda usavam saiote na praia. Prova várias coisas: como a putativa vida amorosa se transferiu para as redes sociais – e ali se emburrece; como a imagem das mulheres se unifica pelos mesmos padrões estéticos; como são sofisticados os modelos de Inteligência Artificial – e como é difícil distinguir o falso do real (ver fotografia de capa desta edição).
A Emily Pellegrini, que eufemisticamente também está presente em sites “de conteúdos para adultos”, foi desenvolvida depois de o ChatGPT ter explicado que “a mulher dos sonhos de um homem comum” tinha aquele aspeto - e parece que acertou. (Prova também que o homem comum pode ser milionário e jogar à bola, o que é uma boa notícia para o homem comum.)
Como se explica nesta edição, Pellegrini não é caso único. Crescem como cogumelos apresentadoras de televisão, manequins e influenciadoras digitais, trabalhadoras incansáveis e bem-sucedidas, que não dão problemas nem pagam segurança social. Já não se trata sequer da fantasia que foi há mais de 20 anos o lançamento do videojogo SIMS, apresentado como uma perigosa alienação, pois simulava a vida, a dos nossos sonhos, a que se apresenta sem a dor do fracasso ou da rejeição.
Se observo o machismo patente nestas bonecas virtuais, também lamento como se falhou no Hermes, o apresentador de TV grego, um dos poucos modelos de Inteligência Artificial do género masculino, que aposto ser perfeitamente incapaz de distrair quem quer que seja das notícias.