Inteligência Artificial e futebol
Um dos golos mais famosos do futebol português foi o canto directo marcado pelo defesa do Sporting João Morais ao MTK de Budapeste, na finalíssima da Taça das Taças de 1964. O golo foi imortalizado por Maria José Valério na canção ‘O Cantinho do Morais’: “Um golo só bastou/ Um golo do Morais/ Que não esquece mais.” São muito raros golos desses, mas os cantos são bastante comuns: há uma média de 10 por jogo. Por isso, os treinadores apuram rotinas para essas situações: indicam quem marca os cantos e como se devem posicionar os atacantes (os defensores também sabem o que fazer, claro). No célebre golo sportinguista o avançado Ernesto Figueiredo saltou com o guarda-redes no primeiro poste, enquanto a bola, passando por cima deles, entrava perto do segundo.
Morais não podia imaginar que a informática iria um dia fazer previsões de cantos. Um programa desenvolvido pela DeepMind, uma empresa do grupo da Google especializada em inteligência artificial (IA), acaba de publicar na revista ‘Nature Communications’ um artigo intitulado “TacticAI: Um assistente de IA para a táctica de futebol” que utiliza redes neuronais, materializadas em processadores da NVIDIA, para, treinado com muitos dados, fazer recomendações tácticas. Técnicos do Liverpool FC ajudaram a validar o modelo computacional. O programa, com base nas posições e velocidades dos jogadores e nalgumas das suas características físicas, não só prevê situações indistinguíveis das reais – assim o julgaram os técnicos – como corrige a posição dos jogadores e diz quem são os prováveis receptores da bola e as suas hipóteses de atirarem à baliza. Por enquanto, o programa, assente na análise de configurações geométricas, está focado nos cantos, mas os autores dizem que poderá ser usado noutros casos. Já havia os treinadores de bancada. Agora há os computadores de bancada.
Depois dos treinadores de bancada há os computadores de bancada