Que Faço eu Aqui?
Que faço eu aqui no país onde nasci? Que faço eu aqui num país que ostenta uma das maiores desigualdades sociais da Europa? Que faço eu aqui num país onde os ricos se gabam de não pagar impostos? Que faço eu aqui num país onde a corrupção é endémica? Que faço eu aqui…
A agravar tudo, em vez de as desigualdades estarem a diminuir, estão a aumentar. Segundo os mais recentes dados da OCDE (2024), Portugal era o segundo país (para os quais existem dados) com a maior proporção de riqueza (23,3%) detida pelos 1% do topo (note-se este número). Antes, em 2010, os 10% mais ricos (volte a notar este número) detinham a maioria da
“Sempre me revoltou e agora, tão doente, ainda me entristece”
riqueza nacional, tendo esta fatia aumentado em 2017 quase para o dobro (54%). É isso que sempre me revoltou e que agora, tão doente, ainda me entristece. Nunca a desigualdade de riqueza deixará de me chocar, posso dizê-lo às claras porque não tenho telhados de vidro. Se o Fisco desejar analisar a minha contabilidade, faça o favor.
Nunca a desigualdade de riqueza deixará de me chocar, posso dizê-lo às claras porque não tenho telhados de vidro. Se o Fisco desejar analisar a minha contabilidade, faça o favor
Esta dor à portuguesa
No fundo, o que sinto é esta dor à portuguesa tão mansa quase vegetal. E penso no homem que, em 1770, num país mais a norte, escrevera, “Uma ajuda decente aos pobres é a medida justa da civilização.” Disse-o Samuel Johnson, o famoso autor do primeiro ‘Dicionário da Língua Inglesa’ e um dos mais reputados intelectuais da época.