Estratégias comunicacionais Falar duro ou falar fofinho
Duas formas de comunicação alternativas chamam a atenção. Uma é a de Pinto da Costa, recandidato no FCP aos 86 anos, após 42 na presidência, mais do que os 36 em que Salazar chefiou o Governo. A longevidade explica-se pelo número de troféus obtidos no seu reinado, como ele disse e repetiu na entrevista à SIC. Mas, a meu ver, ele juntou à capacidade de escolha de treinadores e jogadores, um jeito ímpar de comunicar. Mestre na ironia, dizendo o contrário do que está a dizer, e no humor fino, sabe exactamente como atacar adversários, não à tareia como o `Macaco', mas com bisturi verbal. É um dos melhores comunicadores do país das últimas décadas. Ou foi. Esse tempo está a chegar ao fim. A entrevista à SIC foi confrangedora, à parte poucos momentos de ironia e humor.
Ao estar nas garras do `Macaco' e sequazes, ao deixar contas do clube sob suspeita, com o momento mau no futebol, com um treinador que a falar cria a cizânia mesmo se pretende o contrário, Pinto da Costa tem os factos contra ele e, assim, o modelo de comunicação deixa de funcionar. Parece apenas um homem velho procurando manter o lugar para evitar fraqueza perante eventuais investigações, presentes e futuras. Já nem funciona a sua sempre repetida vitimização (o FCP vítima: de Lisboa; da Justiça; de Lisboa; dos árbitros; de Lisboa; do azar; de Lisboa…), que, no que toca a Lisboa, até foi verdadeira… mas já não. Ele parece estar no passado. As coisas apontam para que não morra no cargo, como, pelo que diz, gostaria que acontecesse. Nem a Salazar isso aconteceu.
O modelo de comunicação alternativo é o de Rúben Amorim, treinador do SCP. Não ataca ninguém, não se vitimiza, não se excede, não usa recursos estilísticos cuidados, a culpa é dele mesmo, ou dele e da equipa, as coisas corrigem-se, etc. É um modelo do tempo actual, fofinho, bem aceite, não cria cizânia, é encolher os ombros e tentar melhorar.
Por razões políticas e de estratégia comunicacional, vejo semelhanças entre estes dois estilos de comunicação individual do futebol noutra área da vida colectiva, a política. Pedro Nuno Santos também usa sempre a vitimização (“chantagem!”), aparenta estar sempre à beira dum ataque de nervos ou de choro, tem uma prosódia desagradável, tudo isso sem a sofisticação retórica de Pinto da Costa. É um discurso de espinhos, sem rosas. Já o governo no seu todo, por ser de minoria, adoptou a personalidade visível de Montenegro na sua comunicação política: não há problemas, há soluções, os adversários para dialogar, tanto que até governamos com 60 propostas deles, não há excitações, irritações próprias e doutrem, nem há vitimização. São rosas sem espinhos. Veremos qual comunicação funciona melhor.
As coisas apontam para que [Pinto da Costa] não morra no cargo, como diz que gostaria