Gaza a ferro e fogo
“O radicalismo, invariavelmente, conduz ao confronto e à guerra”
Nofinaldasegundametadedos anos 90 do século passado estiveduasvezesemGaza,como autarca português, numa altura em que, politicamente, quem liderava o território era a Fatah e não o Hamas, muito mais radicalizado do ponto de vista político e militar e estando longe de representar toda a população palestiniana, que é hoje, em pleno conflito, de cerca de 2,3 milhões de pessoas, num território com cerca de 41 quilómetros de extensão e pouco mais de 10 quilómetros de largura.
Na altura sentia-se bem o ódio que opunha os palestinianos aos israelitas, que não cessavam de afirmar o seu domínio constante e opressivo sobre os habitantes da Palestina.
Estive em Gaza para tentar concretizar, em articulação com Barcelona, formas de apoio à população palestiniana, o que foi feito com computadores e com um plano de requalificação urbana de uma praça central de Gaza. Os computadores vieram a ser destruídos numa posterior incursão militar de Israel.
Por outro lado, vindo eu de Cascais, como vereador da Cultura, estive no Museu Yad Vashem para procurar formas de cooperação e diálogo a propósito do Espaço Memória do Exílio, que funcionava no Estoril, com uma representação expressiva de milhares de refugiados judeus que por ali passaram, sobretudo em 1942 e 1943.
Em Gaza vi a dificuldade que ospalestinianostinhamparafazer prevalecer a sua autonomia e sendo sujeitos a constantes formas de humilhação na fronteira de Erez. Tudo isso contribuiuparaoagravamentodeum estado de tensão, resistência e ódio, que, sem nunca justificar a brutalidade terrorista do Hamas, pode ajudar a compreender a violência do confronto que hoje banha de sangue ruas de Gaza e de Israel, não permitindo ao Hamas falar em nome de todos os palestinianos.
A Autoridade Palestiniana sempre usou como símbolo a fénix, por representar a vontade que um povo tem de renascer das cinzas sem resvalar para o radicalismo que, invariavelmente, conduz ao confronto e à guerra.