Correio da Manha

Desde o início

- António Rego

Há tempos em que parece que nada acontece. Mas logo a seguir temos de perguntar se de facto não acontece nada ou se não notamos o que acontece. E assim podemos passar ao lado da história, distraidam­ente, julgando que tudo parou e o nosso lento movimento não permite que possamos distinguir o que está parado do que permanece em andamento. Podemos facilmente fazer essa experiênci­a movendonos em relação ao estático ou ficando quietos perante tudo o que se move à nossa volta, obrigando-nos a uma contínua relação e levando-nos a não sabermos estar sós.

O Géneses tinha razão ao afirmar que Adão não se sentia bem só. E assim foi. E assim é.

Está na nossa essência a sede de relação ou, se quisermos, de comunicaçã­o. Não precisamos filosofar muito para percebermo­s que a solidão é o pior dos estados de alma e o que menos saídas encontra para as muitas questões que a vida continuame­nte nos coloca. Vem isto a propósito de quê? De tudo e de sempre. Não apenas pela ordem de plural emitida no Génesis mas pela experiênci­a humana em todos os quadrantes de cultura e espaço, onde a relação se colou à essência do existir e que no Géneses se esboçou numa curtíssima frase: “Não é bom que o homem esteja só”. E nesse momento Deus fê-los homem e mulher. E ficou inscrito. E ninguém ficou autorizado a separar o que Deus uniu. Está no cerne do ser humano. E esse laço tem-se chamado simplesmen­te amor e não precisa de mais adereços para pertencer e definir a natureza humana. Foi esse impulso divino tantas vezes distorcido, mas sempre recriado que acompanhou e impulsiona a humanidade em qualquer dos milénios em que aconteceu a edificação desse grande monumento que é o amor indefectív­el entre o homem e a mulher. Está escrito. Desde o princípio. É o Génesis que o diz.

ESTÁ NA NOSSA

ESSÊNCIA A SEDE

DE RELAÇÃO OU, SE QUISERMOS, DE COMUNICAÇíO

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