“Mãe, já levo um olho todo negro”
COMANDOS r Pais de Dylan emocionaram-se ontem em tribunal
Dois anos depois da morte do filho, Lucinda Araújo ainda não consegue conter as lágrimas. Ontem de manhã, no Campus de Justiça, em Lisboa, a mãe de Dylan disse ao coletivo de juízes que o filho tinha o sonho de pertencer aos Comandos. “Ele não me fazia queixas, mas uma vez apareceu em casa com um olho negro. Noutra com uma entorse no pé. O pai teve de o levar ao hospital. No Exército só lhe deram umas muletas”, lamentou Lucinda.
A ouvir, no banco dos réus, estavam os 19 militares acusados de vários crimes de ofensas à integridade física agravadas e abuso de autoridade. “Ele até me avis o u p o r mens age m: ‘Mãe, já levo um olho todo negro’. O meu filho poupava-me a muito”, continuou Lucinda, especificando que em setembro d e 2 0 1 6 , a o vi s i t a r o fi l ho no hospital, os médicos deramlhe poucas esperanças. “O meu filho tinha os braços todos ne- gros, as pernas com arranhões e estava inchado”. O pai, Vítor, desabafou que os médicos do Hospital Curry Cabral disseram que nunca tinham visto nada assim. Recorde-se que Hugo Abreu e Dylan da Silva eram recrutas e morreram durante a Prova Zero do 127º Curso dos Comandos, no campo de tiro de Alcochete.
Ontem foi ouvido também um dos recrutas que desistiu do curso. Orelato foi impressionante. “Estava muito calor, só bebíamos água quando nos deixavam. Vi o Hugo Abreu a cuspir saliva e o primeiro sargento Rodrigues em cima dele. Ele tinha terra à volta da boca. Sempre que pedíamos águaéramos atirados às silvas, a rastejar”.