Lições de ‘quinta-feira’
O segundo volume de ‘Quinta-feira e outros dias’ sublinha a pouca importância que o Presidente tem no desenho da democracia portuguesa.
Sabia-se que Cavaco não morria de amores por Passos Coelho, mas não se esperava um arraso daquele tamanho: o ex-primeiro-ministro fez tudo errado, apesar dos avisos de Cavaco, seguindo uma política de austeridade e sacrifícios sem sentido. Só se salva a coragem que teve em fazer tudo errado.
Cabe a cada um avaliar o diagnóstico feito por Cavaco - ainda que falar à posteriori seja um pouco como fazer o totobola à segunda-feira. O que fica, contudo, é que num dos momentos mais difíceis da história recente do País, o Presidente não teve capacidade, nem autoridade, nem poder para forçar uma austeridade menos austera. Limitou-se a dar conselhos, a sugerir. E isto tanto é verdade para um Chefe de Estado que nunca se engana e raramente tem dúvidas, como para um Presidente de afetos.
‘Quinta-feira e outros dias’ sugere, de alguma maneira, que é preciso repensar o papel da principal figura do Estado. Ou queremos um Presidente com poder, ou não, e neste caso há que alterar o sistema de eleição. Não faz sentido chamar os eleitores a votar em figuras que pouco ou nada decidem.