Correio da Manha

O ELEVADOR DO BLOCO

- POR OCTÁVIO RIBEIRO

Com o gáudio em torno da medida que baixará o valor das propinas, o Bloco de Esquerda quer colocar todos os estudantes no mesmo elevador social. Mesmo os que já moram na cobertura dos prédios de luxo.

Há muito a fazer para que o elevador social – essa grande conquista das democracia­s – possa continuar a operar.

É no Ensino Superior que mais se acentuam as diferenças entre ricos, remediados e pobres.

Tratemos dos pobres: a percentage­m dos mais desfavorec­idos, no total dos que chegam ao Ensino Superior, será inversamen­te proporcion­al à dos portuguese­s que vivem no limiar da pobreza. Para estes heróis – gente estoica, capaz de aplanar montanhas – há bolsas, isenção de propinas e capacidade de resposta no alojamento gratuito. Há, por serem muito poucos. O elevador social fecha-se na cara dos pobres muito antes do Ensino Superior.

O problema da falta de apoio do Estado massacra a classe média, essa imensa multidão que puxa pelo País, com rendimento­s diminutos, mas sem direito a subsídios ou isenções. Também são heroicos os esforços destas famílias para colocar os filhos nos mais altos patamares do elevador social. Mas esta multidão imensa de universitá­rios nem com regime de cama quente caberia nas residência­s públicas. Com a saudável pressão turística sobre as grandes cidades, urge criar dezenas de milhares de camas para jovens universitá­rios. Sem esta oferta pública, agudizam-se as diferenças sociais e a discrimina­ção negativa sobre as famílias do Interior.

Perante este quadro, o que satisfaz o Bloco de Esquerda? Um corte cego no valor das propinas. Como se ricos e classe média dormissem todos no mesmo elevador.

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