253 VENTILADORES AINDA SEM INSPECAO
CASO ➤ Há mais aparelhos de ventilação do que camas e médicos especialistas DADOS ➤ Ordem garante que faltam mais de 5 mil clínicos no SNS e apela à “dotação” dos Intensivos. Governo abre concurso para 48 especialistas
➤ APARELHOS chegaram da China e continuam inativos
➤ ORDEM diz que faltam cinco mil clínicos no SNS
➤ TAREFEIROS custaram 83 milhões em oito meses
Há 253 ventiladores, comprados à China, que ainda não foram distribuídos pelos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) porque aguardam inspeção. A informação foi confirmada ao CM pelo próprio Ministério da Saúde: “Estão em processo de verificação e testagem” por parte da Comissão de Acompanhamento de Medicina Intensiva. Os restantes (713) já foram distribuídos pelas unidades de saúde.
Estes testes são fulcrais para determinar se os aparelhos estão em condições de ser utilizados. Cada um destes equipamentos custou aos cofres do Estado, em média, 18 200 euros.
O investimento nestes ventiladores chineses ultrapassou os 17,5 milhões de euros. Ainda assim, mesmo que a inspeção revele que os 253 ventiladores não estão aptos, tal como aconteceu em junho com algumas unidades - o Governo nunca revelou quantos chumbaram nos testes -, as implicações práticas seriam quase nulas. Isto porque o número atual de ventiladores nos hospitais é bastante superior ao de camas nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) do SNS. Existem, atualmente, 1855 ventiladores no SNS para 569 camas de Intensivos (já inclui um reforço da capacidade de resposta - ver infografia). Mesmo que o número de camas já tivesse sido reforçado ao máximo, situando-se nas 944 camas, continuariam a sobrar ventiladores. Quase metade.
Além desta inadequação entre os ventiladores adquiridos e a capacidade instalada, há ainda falta de pessoal a agravar o caos. “O verdadeiro ventilador do SNS são os profissionais especializados. De pouco vale ter o equipamento se não existir ninguém para o manobrar. O cenário de caos sempre existiu, mas a Covid-19 veio torná-lo mais evidente e lamento que ainda assim o Ministério não reconheça a necessidade de o reforçar”, defende o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães.
Neste momento, as UCI públicas contam com apenas 405 médicos. Deste total, só 305 são realmente formados em Medicina Intensiva. Segundo a OM, os 83 milhões de euros que o Governo gastou entre janeiro e agosto deste ano com médicos tarefeiros serviriam para contratar 5 mil médicos assistentes durante um ano. “É necessário reforçar as UCI porque lá é que eles são precisos, para evitar que os hospitais estejam sob pressão com o aumento dos internamentos”, alerta Miguel Guimarães. Nas contas da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos faltam 350 enfermeiros com especialidade médico-cirúrgica.
Ao CM, o Governo garantiu estar a responder “aos desafios da pandemia” através do investimento de 22 milhões de euros (ver caixa ao lado) para contratar profissionais. Fonte oficial diz que “com vista ao reforço dos Cuidados Intensivos” foi aberto um concurso com 48 vagas para médicos intensivistas até ao final deste ano.
INVESTIMENTO EM VENTILAÇÃO É SUPERIOR A 17,5 MILHÕES DE EUROS
MÉDICOS TAREFEIROS CUSTARAM 83 MILHÕES EM 8 MESES AO GOVERNO