O SNS e nós
Disse António Costa, há dias, que o controlo da pandemia ‘depende exclusivamente de nós’ e que não podemos ‘estar à espera que seja o SNS a resolver a pandemia’. Está quase tudo errado aqui.
Voltemos atrás: desde o início que nos dizem que o confinamento e medidas acessórias (máscaras, lotações de eventos, etc.) não se propõem erradicar a infecção mas sim reduzir o ritmo de contágio, para permitir ao SNS lidar com um súbito acréscimo de casos. Toda a destruição social, económica e moral foi justificada para
‘defender o SNS’. Destruição moral é a palavra certa para definir a possibilidade de a polícia entrar nos nossos domicílios se suspeitar de convívio superior a cinco pessoas, a possibilidade (já concretizada) de a polícia interromper uma aula da universidade por um professor não usar máscara, a proposta de tornar a máscara ou a app de detecção de COVID obrigatórias.
Portanto, o mínimo que se deve exigir é que o SNS corresponda aos nossos sacrifícios. Não vale a pena chorar sobre o leite derramado da falta de médicos: é a mesma Ordem dos Médicos que agora exige mais médicos que anda há décadas a promover o malthusianismo no acesso aos cursos de medicina; nem da falta de financiamento do SNS, depois de anos de austeridade. Isso não ajuda a resolver a emergência. Mas vale a pena exigir que os meios existentes sejam bem geridos. Parece que neste momento a capacidade usada de unidades de cuidados intensivos anda pelos 60-70%, sendo que, no outro dia, o médico João Gouveia explicou que o limiar crítico é 85% - e ainda faltam os outros 15%. No entanto, dois ou três hospitais de Lisboa e Porto já atingiram os 100%, quando ainda um terço da capacidade total está por usar.
Não pode ser por causa desta profunda incompetência que se aventam novos confinamentos, apps obrigatórias e outras barbaridades. Seria negligência, à beira do crime.
O MÍNIMO QUE SE DEVE FAZER É EXIGIR QUE O SNS CORRESPONDA AOS NOSSOS SACRIFÍCIOS