Apps e inteligência
SE COM SAPIÊNCIA
FOSSE EXPLICADO
QUE STAYAWAY DEVE SER CIDADANIA A APP SERIA SALVA
Quando percebeu que estava a registar uma quebra significativa de visitas de público jovem, a Galeria dos Ofícios, de Florença, detentora da melhor coleção de arte renascentista do Mundo, decidiu há três meses tomar uma medida radical. Em vez de recorrer às convencionais – e chatas – visitas virtuais ao museu, a ‘Galleria degli Ufizzi’ passou a promover-se na rede social TikTok.
O belo e circunspecto Nascimento de Vénus, de Botticelli, foi usado para o lançamento de uma coleção primavera-verão com um chimpanzé de luvas e máscara como protagonista. Estranho? Talvez não. Relevantes ‘influencers’ de Itália foram convidados a seguir a onda da ‘Ufizzi’ e, dessa forma, despertar a atenção de milhões de seguidores para o espaço. Usando a vanguarda das redes sociais para divulgar o seu património clássico, a Galeria dos Ofícios arriscou bastante ao promover obras sérias numa plataforma em que uma mensagem irónica se pode tornar ofensiva com relativa facilidade.
Ao duplicar em três meses as visitas de público jovem ao imponente palácio italiano, provou que uma app usada com inteligência pode ser extremamente eficaz. Porque a questão não é o que se quer promover, mas sim como o fazer.
Foi justamente sapiência que faltou ao lançamento e promoção da aplicação governamental de rastreio de infetados StayAway Covid. Não porque a polémica app viole, como tanto se especulou, a nossa privacidade – de facto não viola -, mas porque imaginar impor a sua instalação e, pior ainda, a sua fiscalização ‘pidesca’, era uma ideia pouco inteligente e naturalmente condenada à nascença por muito que António Costa a tente ressuscitar. Se, em vez disso, o Governo tivesse sido capaz de apelar inteligentemente à responsabilidade de cidadania que é instalar a app – e ser disruptivo nesse apelo, sobretudo entre jovens –, talvez tivesse evitado a inutilidade que é a StayAway Covid. Agora já é tarde.