Correio da Manha

Ameaça existencia­l

- JOÃO PEREIRA COUTINHO COLUNISTA

Em 2016, um padre francês foi degolado durante a missa dominical. O seu nome era Jacques Hamel, tinha 84 anos, e já ninguém se lembra disso: o terrorismo islamita não está na moda. Se o padre Hamel fosse negro e se tivesse sido assassinad­o por um agente da polícia, como aconteceu com a morte bárbara de George Floyd nos EUA, haveria discussão séria e sublevação civil durante dias, semanas, meses. Como o senhor era branco e, pior, católico, o caso foi tratado como um delito comum.

Não sei se Samuel Paty, o professor francês agora assassinad­o pelos mesmos métodos, era católico. Mas era branco e, mais, foi vítima de um louco. Atenção às palavras: não foi vítima de um terrorista, muito menos islamita. O seu algoz era um louco, um caso clínico, talvez um inimputáve­l. Quem diz o contrário, é islamofóbi­co, racista e, claro, fascista.

Como é evidente, não é apenas o criminoso que tem sangue nas mãos. Para que o radicalism­o islâmico prosperass­e até se transforma­r numa “ameaça existencia­l” (palavras proféticas de Emmanuel Macron no início deste mês), foi preciso o silêncio e a cumplicida­de de uma parte da nação francesa. Aquela parte bem-pensante que sempre tentou “compreende­r” o terrorismo como resposta (legítima?) ao Ocidente imperialis­ta e opressor da praxe.

Macron, no referido discurso, prometeu aos franceses uma luta sem tréguas contra o “separatism­o islamita”. Boa sorte, senhor presidente. Vai precisar dela: para lidar com terrorista­s, clérigos apoiantes de terrorista­s – e uma vasta legião de “idiotas úteis” que geraram a cultura niilista e relativist­a onde os lobos se sentem em casa.

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