Assim, vai correr mal!
Nunca em Portugal um Governo caiu por não ter o Orçamento aprovado. Estranho seria que tal acontecesse em contexto de crise sanitária, económica e social.
Para quem tivesse dúvidas, o primeiro-ministro deixou claro na segunda-feira à noite que, mesmo com o orçamento chumbado, não deitará a toalha ao chão.
O orçamento apresentado está alinhado com os últimos cinco, que mereceram o apoio do PCP e do Bloco e a rejeição do PSD e do CDS. Distingue-se apenas porque, para responder à crise, secundariza o equilíbrio orçamental e reforça de sobremaneira os recursos para os setores da Saúde e da Educação, os apoios sociais de emergência e o investimento público. Talvez PCP e Bloco vejam aqui razões para mudar de posição e juntarem os seus votos ao PSD e ao CDS, mas parece-me que teriam muito trabalho a explicar porquê.
Nos dias presentes e nos próximos, porém, não é nos jogos políticos em torno do Orçamento de Estado que está o principal problema do País, e por isso António Costa deve deixar esse assunto ao ministro das Finanças – ele que lide com os regateiros e as regateiras orçamentais e arranje maneira de os ajudar a sair mais ou menos incólumes do buraco, onde sobretudo o Bloco de Esquerda se meteu com o extremar de posições das últimas semanas.
É para o combate à pandemia que Costa tem de voltar as atenções e reassumir o comando das operações, tal como fez em março. Agora, a sua primeira missão é pôr o setor da saúde a remar todo para o mesmo lado. Não é possível obter bons resultados quando temos a Direção-Geral de Saúde para um lado, médicos, enfermeiros, ordens e sindicatos para o outro, hospitais públicos com dificuldade em falar entre si, hospitais particulares e setor social postos de parte, como se não existissem. Ou Costa os mobiliza a todos ou isto não correrá bem!