EDUARDO LOURENÇO PENSADOR PORTUGUÊS
O PENSADOR PORTUGUÊS
QUERIA SER FICCIONISTA MAS ACHAVA-SE COM POUCA IMAGINAÇÃO
PAÍS RENDEU-SE AO BRILHO DA INTELIGÊNCIA E CUMULOU-O DE PRÉMIOS
APOIOU EANES, MARIA DE LURDES PINTASILGO E MÁRIO SOARES
OBRA Filósofo tinha 97 anos e deixa mais de 40 livros para a posteridade ADEUS Funeral é hoje, dia de luto nacional, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa
Qu ando completou 95 anos, Eduardo Lourenço confessou, em entrevista, que era “difícil assumir” o aniversário, porque sabia que era “o princípio do fim ”. Mas apressou-se a acrescentar que não via a morte “como uma coisa trágica”. “Todos estamos confrontados com essa exigência”, acrescentou.
Eduardo Lourenço morreu ontem, aos 97 anos, em Lisboa. Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, embora tenha começado por sonhar com a carreira de romancista. Achando-se com poucos dotes para a ficção (“não tenho imaginação”, confessou), fez tudo o resto e o País rendeu-se ao brilho da sua inteligência, distinguindo-o inúmeras vezes, incluindo com o Prémio Camões (1996) e o Prémio Pessoa (2011).
Nascido a 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, concelho de Almeida, na raia beirã, filho de um militar do exército, Eduardo Lourenço de Faria licenciou-se em 1946 em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra, onde iniciou o seu percurso, como assistente. Em 1949, publicou o primeiro de mais de 40 livros, ‘Heterodoxia’, em que recuperou a sua tese de licenciatura.
A partir daí, a escrita de livros acompanhou-lhe o percurso como docente, e não só. Foi leitor de Cultura Portuguesa nas universidades de Hamburgo e Heidelberg, em Montpellier e no Brasil. Já casado com a francesa Annie Salamon (em 1954) passou a viver em França a partir da década de 60. Deu aulas na Universidade de Grenoble e na Universidade de Nice, onde se jubilou em 1988.
Em 1989, assumiu funções como conselheiro cultural junto da Embaixada Portuguesa em Roma, e em 1999 passou a ocupar o cargo de administrador (não executivo) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Assumindo-se como homem de esquerda – sem nunca ter perdido a capacidade de a criticar–em 1978 aderiuà União de Esquerda para a Democracia Socialista e em 1980 apoiou a recandidatura de Ramalho Eanes à Presidência da República. Cinco anos depois, integrou a candidatura de Maria de Lurdes Pintasilgo, na primeira volta das Presidenciais, e de Mário Soares, na segunda.
Era, desde abril de 2016, Conselheiro de Estado, por designação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O corpo de Eduardo Lourenço vai estar hoje – dia que o primeiro ministro António Costa decretou de luto nacional – em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa, a partir das 11h00. A missa, às 12h00, será concelebrada pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e pelo cardeal Tolentino Mendonça.
“NÃO TRABALHAR FOI SEMPRE, EM PORTUGAL, SINAL DE NOBREZA”
“ADULAÇÃO PERMANENTE E ESPETACULAR DA CRIANÇA-REI É UM DOS MAIS COMUNS REFLEXOS DA EDUCAÇÃO PORTUGUESA”
“NA VERDADE, NÃO TEMOS SAUDADES, É A SAUDADE QUE NOS TEM, QUE FAZ DE NÓS O SEU OBJETO”
“OS PORTUGUESES VIVEM EM PERMANENTE REPRESENTAÇÃO, TÃO OBSESSIVO É NELES O SENTIMENTO DE FRAGILIDADE ÍNTIMA INCONSCIENTE”