Portugal mais pobre
Quis um capricho do destino – essa coisa tão portuguesa - que Eduardo Lourenço tivesse morrido no dia da Restauração da Independência de Portugal, pedaço neste extremo europeu que ele tão perspicazmente refletiu. Por muitas que sejam as divergências que tenhamos sobre a leitura que o filósofo, ensaísta, professor e tudo o mais, fez da alma lusitana, essencialmente a partir de abril de 1974, será justo admitir que Portugal está mais pobre. Porque Eduardo Lourenço, como um dia escreveu o Nobel da literatura José Saramago, “abriu-nos os olhos, mas a luz era demasiado forte. Por isso, tornámos a fechá-los”.
Eduardo Lourenço foi, durante décadas, uma figura incontornável do pensamento português, mesmo que o conhecimento real que dele temos não tivesse correspondência efetiva. E por isso talvez não tenhamos apreendido muito com ele. É pena. Poucas horas após a notícia da sua morte, mais de 20 mil pessoas procuram no mais popular motor de pesquisa da internet pela expressão “Eduardo Lourenço”. No Brasil, os livros do ensaísta estão fora do catálogo da sua editora local e só recentemente um editor português lançou no mercado brasileiro duas das suas principais obras: “O Labirinto da Saudade” e “Fernando Pessoa Revisitado”.
Por cá, onde o filósofo foi mais editado, mas não necessariamente mais compreendido, podemos concordar com ele quando diagnosticou que a revolução de abril terá sido uma oportunidade perdida para a construção de um discurso identitário – falhado – que fosse para além de algum tímido crescimento económico trazido por via da integração europeia. Essa Europa que Lourenço haveria de considerar ter-se tornado “um museu de si mesma”.
“De todas as palavras que eu disse, nenhuma me surpreendeu tanto”, disse um dia Eduardo Lourenço. Tomara que fossemos capazes de nos surpreender com as suas palavras. E aprender com elas.
TOMARA QUE UM DIA
FOSSEMOS CAPAZES
DE APRENDER COM AS PALAVRAS DE EDUARDO LOURENÇO