Correio da Manha

Pescadores enfrentam “pior ano de sempre”

CASO Dragagens no Sado provocam quebra de 9637 kg no peixe capturado até final de outubro

- SOFIA GARCIA

APANHA DE BESUGOS CAIU PARA UM TERÇO DO VALOR REGISTADO EM 2019

Até 31 de outubro, e em comparação com o ano passado, os profission­ais da pesca de Setúbal apanharam menos 9637 kg de peixe. Atribuem a falta de pescado às obras de dragagem que decorrem no Sado. “Este é já o pior ano de sempre. Falta a cadeia alimentar para as espécies que mais apanhamos e estas vão desaparece­ndo”, explica Ricardo Santos, da Sesibal, cooperativ­a de Pesca de Sesimbra-Setúbal-Sines.

Quando detalhada a captura das espécies mais comuns no rio

Sado, relativame­nte ao mesmo período do ano passado, a redução torna-se mais evidente. A Docapesca, que gere as lotas de Setúbal e Sesimbra, revela ao Correio da Manhã que, por exemplo, a captura de besugos, que em 2019 atingiu os 59 522 30 kg, diminuiu para um terço, este ano. A pesca de linguado-legítimo baixou de 23 118 00 kg, no ano passado, para 19 023 60 kg. Já a apanha de espécies como salmonete - legítimo e o linguado da areia subiu, no mesmo período. Para os pescadores, a explicação para este aumento assenta na necessidad­e de capturar outras espécies por falta das que têm mais procura. “Apanhamos o que podemos. As dragagens são uma vandalizaç­ão do nosso ecossistem­a. O rio Sado é uma maternidad­e de peixes e as dragagens matam-na. Nos anos 90, chegámos a ter 260 espécies e, hoje, não temos nem 50. Isto é consequênc­ia das frequentes dragagens, feitas ao longo dos anos, mas considerad­as pequenas, em comparação com as atuais”, afirma Ricardo Santos.

As obras de dragagens decorrem há cerca de um ano, para alargament­o do canal marítimo de acesso ao Porto de Setúbal, permitindo a passagem de navios de grande calado ou de mais do que um em simultâneo. O projeto prevê a extração de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do estuário do rio Sado, em duas fases. Após uma paragem de alguns meses, as obras retomaram há cerca de quatro semanas.

 ??  ?? Dragagens decorrem há cerca de um ano no estuário do Sado
Dragagens decorrem há cerca de um ano no estuário do Sado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal