Pescadores enfrentam “pior ano de sempre”
CASO Dragagens no Sado provocam quebra de 9637 kg no peixe capturado até final de outubro
APANHA DE BESUGOS CAIU PARA UM TERÇO DO VALOR REGISTADO EM 2019
Até 31 de outubro, e em comparação com o ano passado, os profissionais da pesca de Setúbal apanharam menos 9637 kg de peixe. Atribuem a falta de pescado às obras de dragagem que decorrem no Sado. “Este é já o pior ano de sempre. Falta a cadeia alimentar para as espécies que mais apanhamos e estas vão desaparecendo”, explica Ricardo Santos, da Sesibal, cooperativa de Pesca de Sesimbra-Setúbal-Sines.
Quando detalhada a captura das espécies mais comuns no rio
Sado, relativamente ao mesmo período do ano passado, a redução torna-se mais evidente. A Docapesca, que gere as lotas de Setúbal e Sesimbra, revela ao Correio da Manhã que, por exemplo, a captura de besugos, que em 2019 atingiu os 59 522 30 kg, diminuiu para um terço, este ano. A pesca de linguado-legítimo baixou de 23 118 00 kg, no ano passado, para 19 023 60 kg. Já a apanha de espécies como salmonete - legítimo e o linguado da areia subiu, no mesmo período. Para os pescadores, a explicação para este aumento assenta na necessidade de capturar outras espécies por falta das que têm mais procura. “Apanhamos o que podemos. As dragagens são uma vandalização do nosso ecossistema. O rio Sado é uma maternidade de peixes e as dragagens matam-na. Nos anos 90, chegámos a ter 260 espécies e, hoje, não temos nem 50. Isto é consequência das frequentes dragagens, feitas ao longo dos anos, mas consideradas pequenas, em comparação com as atuais”, afirma Ricardo Santos.
As obras de dragagens decorrem há cerca de um ano, para alargamento do canal marítimo de acesso ao Porto de Setúbal, permitindo a passagem de navios de grande calado ou de mais do que um em simultâneo. O projeto prevê a extração de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do estuário do rio Sado, em duas fases. Após uma paragem de alguns meses, as obras retomaram há cerca de quatro semanas.