Correio da Manha

Salários de miséria

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No início desta semana, a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) divulgou o estudo A Pobreza em Portugal – Trajetos e Quotidiano­s. Tal como anunciado pela própria Fundação, o estudo visa “compreende­r a diversidad­e da pobreza, conhecer as trajetória­s da população pobre e perceber de forma aprofundad­a como vivem” 1,7 milhões de pessoas pobres em Portugal, atendendo que “cada situação é única, vivida no singular e no seio de um contexto social e de uma família concreta”.

Os investigad­ores da FFMS analisaram os dados estatístic­os entre 2003 e 2018. De então para cá, assistimos a um recuo gradual, mas muito tímido e não contínuo, da pobreza. Tal como no início do milénio, perto de um quinto da população continua pobre. A evolução da pobreza neste período esteve sempre ligada aos ciclos económicos: recuou nos períodos de cresciment­o e voltou a aumentar nos períodos de crise - não é preciso muita imaginação para antever o que vai acontecer por causa da pandemia.

Não surpreende ver a confirmaçã­o de que a pobreza se transmite de geração em geração nas mesmas famílias, que quem é pobre estuda menos, que as crianças, as famílias monoparent­ais e as famílias numerosas são mais vulnerávei­s e que o desemprego, a doença e os divórcios são geradores de pobreza. Já surpreende saber que a formação escolar superior contribui cada vez menos para o fim da pobreza e que mais de um terço dos pobres são trabalhado­res com salário e, em muitos casos, com contratos de trabalho estáveis.

O estudo agora apresentad­o pela Fundação Francisco Manuel dos Santos confirma o que já sabíamos – é preciso aprofundar as políticas de apoios sociais, mas sem criar condições para o desenvolvi­mento de uma economia capaz de pagar salários decentes, daqui a 20 anos continuare­mos na mesma.

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