Costas largas da Covid
FALTA DE INTERESSE
NO PORTO DE SINES
É FRACASSO DA NOSSA DIPLOMACIA ECONÓMICA
Oporto de Sines, a principal entrada atlântica de mercadoria na Europa, falhou a adjudicação do novo terminal de contentores, orçado em perto de 650 milhões de euros. Oficialmente, tratou-se de mais um efeito colateral da Covid-19 e da crise global que a pandemia está a provocar. Acontece que as costas largas do coronavírus não podem esconder o fracasso da diplomacia económica portuguesa, nem a circunstância da adjudicação desta importante e estratégica unidade portuária ter sido apanhada no fogo cruzado da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.
É certo que o desinteresse dos investidores internacionais no porto que no ano passado movimentou 42 milhões de toneladas, nomeadamente em petróleo e gás, não colocará em risco o crescimento de Sines. Mas o País sai mal da fotografia. Como bem lembra o diário parisiense Le Monde, que analisou longamente o último fracasso de Sines, após a crise da dívida soberana
“Portugal abriu as portas a investidores chineses”, circunstância que mantém os norte-americanos irritados até hoje. Muitos se lembrarão da tempestade diplomática causada no ano passado quando o embaixador dos EUA em Lisboa pediu a Portugal que clarificasse se pretendia aliar-se a Pequim ou a Washington. As palavras de George Glass podem até ter visado a opção para a tecnologia 5G, mas a sombra de Sines também pairou no aviso do diplomata. O caso está longe do fim. Os americanos não estão disponíveis para aceitar que a China tenha o domínio do importante porto de águas profundas ao sul de Lisboa, no momento em que Portugal, um país membro da NATO, assume a presidência da União Europeia. Mesmo com o interesse chinês não foi possível adjudicar o novo terminal de contentores sem que a explicação tenha ido além da pandemia. Sem o dinheiro e Pequim e só com as palavras de Washington, Sines arrisca-se a transformar-se no novo elefante branco nacional.