Correio da Manha

A desvaloriz­ação do erro

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Lendo as notícias, vamos ficando com a impressão de que os casos de não cumpriment­o de muitas das regras impostas por força da pandemia aumentam de dia para dia, sobretudo entre a menos paciente juventude, pouco dada a tentar compreende­r o “tricot” das restrições aos seus movimentos e a aceitar a determinaç­ão de uma hora para dormir. Por outro lado, a observação do espaço público e dos estabeleci­mentos comerciais permite-nos concluir que o uso da máscara, o cumpriment­o do distanciam­ento físico e a utilização de gel desinfetan­te estão generaliza­dos. De forma exemplar, os portuguese­s aderiram a essas recomendaç­ões das autoridade­s de saúde.

Máscara, distância e higiene, estas foram as regras que se mantiveram constantes ao longo dos 16 meses de combate à pandemia e são aquelas cujo objectivo é facilmente compreendi­do por todos. Muitas outras medidas têm andado para a frente e para trás sem terem recebido a mesma aceitação pela população, talvez porque apareçam e desapareça­m sem que se perceba bem para que serviram e que objectivos procuravam atingir.

A obrigatori­edade de apresentar vacinas ou testes à porta de restaurant­es, alojamento­s e hotéis corre o risco de entrar para o lote de imposições que ninguém compreende. Para que assim não seja, é fundamenta­l que as autoridade­s de saúde sejam capazes de explicar o que se pretende com a medida e, além do mais, adequá-la ao ritmo da vacinação.

A comunicaçã­o política tem subvaloriz­ado o reconhecim­ento e a correcção do erro. Prefere muitas vezes subestimar a inteligênc­ia do eleitorado e apostar no dogma da infalibili­dade do chefe, verbalizad­o há muitos anos por Cavaco Silva no famoso “nunca me engano e raramente tenho dúvidas”. Experiment­em o contrário, verão como as pessoas são extremamen­te inteligent­es.

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