Setembro negro
Aretirada americana do Afeganistão foi uma forma oportuna de assinalar os 20 anos dos atentados de 11 de Setembro. Foi por causa deles que os EUA entraram lá, sendo que este ano deverão ainda proceder à retirada final do Iraque, onde usaram a mesma justificação.
O 11/9 foi um choque para o Ocidente triunfante da Guerra Fria: afinal, nem todos rejubilavam com a sua vitória sobre o socialismo soviético. E não apenas fracções do Islão. O mesmo acontecia com muitos órfãos ocidentais desse socialismo, que, ao invés, rejubilaram com o colapso das torres de Nova Iorque, vendo aí uma nova porta para a luta.
Mas a crença dos EUA nas virtudes da democracia vitoriosa era tão grande que acharam poder domar o radicalismo islâmico transformando Afeganistão e Iraque em regimes consensuais: o radicalismo moderaria por dentro e os dois países tornar-se-iam bons exemplos para os vizinhos. Só que nunca tiveram muita capacidade para isso: poucos se lembram do segundo mandato de George Bush, então visto com o mesmo horror com que Trump o foi agora. No fundo, faltou-lhes suficiente lealdade interna para serem mais afirmativos lá. Mas nem tudo foi mau: o Afeganistão teve vislumbres de liberdade e o regime iraquiano, por muitos problemas que tenha, é incomparável com o de Saddam, enquanto o terrorismo islâmico mesmo assim enfraqueceu.
A saída do Afeganistão (e do Iraque) representa o cansaço dos EUA no seu papel de auto-proclamado ‘farol da democracia’ e o fim da fé ingénua nas suas virtudes. O problema é o que se segue: faltando essa crença na democracia, fica o brutal realismo, o qual pede estômagos fortes. Aliás, a crença parece fraquejar nas próprias democracias, agora acusadas de não serem verdadeiras, por causa do ‘racismo estrutural’, da intolerância ‘anti-transgénero’ ou dos ‘crimes ambientais’. Ainda vamos ter saudades dos últimos 20 anos.
FALTANDO CRENÇA NA DEMOCRACIA, FICA O BRUTAL REALISMO,
O QUAL PEDE ESTÔMAGOS FORTES