Correio da Manha

Boas e más moedas

- Luciano Amaral Professor Universitá­rio

Até dia 26, o comentário político dizia que vivíamos num Reich socialista para mil anos; a partir de 27, passou a dizer que há um grande ‘desgaste da governação’. Acalmemo-nos um bocadinho, sff. Sem a vitória de Carlos Moedas em Lisboa, a ‘vitória’ do PSD não teria existido. Até à véspera, Rui Rio tinha em Coimbra o seu maior trunfo. Sem desprimor para a lusa Atenas, vencer em Coimbra não é o mesmo que em Lisboa. Sem Lisboa, todo o ‘feeling’ e ‘spin’ do dia seguinte seria outro. Ora, a vitória de Moedas tem muito que se lhe diga.

Esquecendo a dificuldad­e de leitura nacional para uma eleição sobretudo local, vejam-se os números. Moedas ganhou três mil votos sobre PSD e CDS em 2017, Medina perdeu 25 mil. Dir-se-á: perdeu os votos da esquerda. Seria assim se a esquerda tivesse ganho 25 mil votos. Mas a única força de esquerda a ganhar votos foi a CDU, com mais mil. O BE perdeu mil e o MRPP desaparece­u (quando tinha tido mil). Só os pequenos partidos de direita cresceram: Chega, com quase 11 mil, e IL, com 10 mil. Na falta de dados detalhados, eis o mais provável: uma grande parte do eleitorado de Medina em 2017 votou Moedas e uma grande parte do eleitorado potencial de Moedas votou Chega e IL (21 mil, os dois juntos).

Moedas ganhou ao centro, portanto, mas não com a estratégia de Rio e a sua incompreen­sível conversa sobre ‘direita’ e ‘social-democracia’. Moedas ignorou preciosism­os ideológico­s, limitando-se a oferecer algo visivelmen­te diferente de Medina. Ou seja, Rio usou Lisboa para se afirmar vencedor, mas a sua estratégia não venceu: a leitura nacional dos resultados de Lisboa obrigaria a dizer que não foi o PSD de Rio que ganhou e sim outro PSD. Ninguém melhor do que os próprios militantes do PSD sabem isso. Com o PS em fanicos em 2023, depois de Costa partir, não quererão perder a oportunida­de de ganhar essas eleições.

RIO USOU LISBOA

PARA SE AFIRMAR

VENCEDOR, MAS A SUA ESTRATÉGIA

NÃO VENCEU

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