A responsabilidade de Moedas
Os dois últimos discursos de Fernando Medina, de derrota na noite eleitoral e de celebração da República nos 111 anos da sua proclamação na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, foram testemunhos de dignidade na derrota, espírito democrático na transição do poder e exigência para o futuro.
Medina assumiu a derrota com tristeza, mas não rejeitou responsabilidades pelo resultado. Garantiu que a transição do poder para o novo Presidente da Câmara decorreria com normalidade e deixou aos eleitos na sua lista e ao Partido Socialista a recomendação de que, sem abdicar dos eixos estruturantes do programa eleitoral que os elegeu, não deveriam erguer-se como obstáculo intransponível ao governo da cidade. Mesmo os de memória curta recordam as condições em que a Câmara de Lisboa foi deixada pelo PSD ao PS em 2007, quando a discórdia política e o desmando financeiro paralisaram e arruinaram a autarquia, então incapaz de assegurar serviços básicos da cidade ou honrar os pagamentos a dezenas de milhar de fornecedores, alguns dos quais faliram à conta da irresponsabilidade da Câmara de Lisboa.
Ontem no salão nobre dos Paços do Concelho, Medina lembrou que hoje a situação é a oposta. Nos últimos 14 anos a cidade mudou muito e a Câmara também. Lisboa é hoje uma das melhores cidades do mundo para viver e a autarquia impulsiona o compromisso com os desafios fundamentais das grandes capitais europeias – as alterações climáticas, o apoio aos pobres e frágeis, a integração dos imigrantes, a segurança e a capacidade de responder a situações de crise. Moedas foi eleito com um programa político pouco claro em que apenas se vislumbrava uma ideia de mudança sem se saber para quê. É sua responsabilidade mudar apenas o que está mal para que não voltemos para trás.