Sombras bloquistas
As autárquicas trouxeram algumas grandes surpresas para muitos partidos mas não para o Bloco de Esquerda. É assim há mais de 20 anos, desde que foi fundado em 1999: a cada eleição autárquica, o BE toma o seu banho de realidade, constatando a sua quase absoluta inexistência ao nível do poder local, que é como quem diz, a sua rotunda insignificância junto das populações. Isto só se pode explicar de uma forma: para o Bloco, a desvalorização das autárquicas é programática e estratégica, o poder local não lhe interessa, a governação de câmaras municipais e de juntas de freguesia pertence a uma liga à qual o Bloco não tem vontade de descer. Por isso, nunca ninguém ouve pedir a cabeça dos líderes do Bloco após os sucessivos desaires autárquicos, ao contrário do que acontece noutros partidos. Os dirigentes bloquistas sempre se acharam predestinados para outros voos mais condicentes com a sua alegada superioridade moral, e o mais insólito é que uma certa “Intelligentsia” urbana e uma certa comunicação social (a nacional, não a local) embarcam alegremente nessa balela, dando-lhe um palco político que não tem chão sociológico. A postura do BE na negociação do Orçamento do Estado com o Governo socialista é sintomática. Quem estiver desatento há-de pensar que depende do Bloco haver ou não haver orçamento aprovado. E que os bloquistas são negociadores implacáveis e intransigentes na defesa dos seus valores e que, com eles, é tudo numa base de “vai ou racha”. Ora, está provado que António Costa não precisa assim tanto do voto a favor de Catarina Martins para o seu orçamento passar. Isso ficou à vista no ano passado, em que os bloquistas votaram contra – e verdade seja dita, ainda hoje ninguém percebeu porquê depois de terem aprovado cinco orçamentos socialistas. Mais uma vez, o Bloco quer dar a impressão de que está numa posição de relevância e que pode, com um simples dedo, virar o jogo. Só que o jogo é de sombras.
COSTA NÃO PRECISA ASSIM TANTO DO VOTO DE CATARINA MARTINS PARA O ORÇAMENTO PASSAR