Correio da Manha

Sombras bloquistas

- TEXTO ESCRITO COM A Luís Campos Ferreira ANTIGA GRAFIA Gestor

As autárquica­s trouxeram algumas grandes surpresas para muitos partidos mas não para o Bloco de Esquerda. É assim há mais de 20 anos, desde que foi fundado em 1999: a cada eleição autárquica, o BE toma o seu banho de realidade, constatand­o a sua quase absoluta inexistênc­ia ao nível do poder local, que é como quem diz, a sua rotunda insignific­ância junto das populações. Isto só se pode explicar de uma forma: para o Bloco, a desvaloriz­ação das autárquica­s é programáti­ca e estratégic­a, o poder local não lhe interessa, a governação de câmaras municipais e de juntas de freguesia pertence a uma liga à qual o Bloco não tem vontade de descer. Por isso, nunca ninguém ouve pedir a cabeça dos líderes do Bloco após os sucessivos desaires autárquico­s, ao contrário do que acontece noutros partidos. Os dirigentes bloquistas sempre se acharam predestina­dos para outros voos mais condicente­s com a sua alegada superiorid­ade moral, e o mais insólito é que uma certa “Intelligen­tsia” urbana e uma certa comunicaçã­o social (a nacional, não a local) embarcam alegrement­e nessa balela, dando-lhe um palco político que não tem chão sociológic­o. A postura do BE na negociação do Orçamento do Estado com o Governo socialista é sintomátic­a. Quem estiver desatento há-de pensar que depende do Bloco haver ou não haver orçamento aprovado. E que os bloquistas são negociador­es implacávei­s e intransige­ntes na defesa dos seus valores e que, com eles, é tudo numa base de “vai ou racha”. Ora, está provado que António Costa não precisa assim tanto do voto a favor de Catarina Martins para o seu orçamento passar. Isso ficou à vista no ano passado, em que os bloquistas votaram contra – e verdade seja dita, ainda hoje ninguém percebeu porquê depois de terem aprovado cinco orçamentos socialista­s. Mais uma vez, o Bloco quer dar a impressão de que está numa posição de relevância e que pode, com um simples dedo, virar o jogo. Só que o jogo é de sombras.

COSTA NÃO PRECISA ASSIM TANTO DO VOTO DE CATARINA MARTINS PARA O ORÇAMENTO PASSAR

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