Correio da Manha

Alzheimer de Salgado não faz esquecer crimes

DECISÃO Juiz recusa suspender julgamento e diz que doença não afeta a defesa do ex-banqueiro ARGUMENTAÇ­ÃO “Não parece que arguido esteja mental ou fisicament­e ausente”, diz magistrado

- DÉBORA CARVALHO

Para o juiz

que está a julgar Ricardo Salgado, o ex-banqueiro não se defende em tribunal “porque não quer” e não por “estar doente”

Ojuiz que está a julgar Ricardo Salgado, no processo Marquês, diz que a doença de Alzheimer de que sofre o ex-banqueiro não afeta a sua capacidade de defesa nem sequer é motivo para suspender o julgamento.

No despac ho, a q u e o CM teve acesso, o juiz Francisco Henriques refere que “a deficiênci­a cognitiva, ou seja, a capacidade de reproduzir memórias, não é de todo impeditiva do exercício do direito de apresentar pessoalmen­te em julgamento a versão dos factos passados”. O magistrado vai ainda mais longe: “Não é o tribunal que impõe qualquer limite ao direito de defesa do arguido, é o próprio que autolimita as suas capacidade­s de defesa ao optar por não prestar declaraçõe­s.”

O juiz lembra que “a degradação das faculdades cognitivas são consequênc­ia natural da longevidad­e humana”, acrescenta­ndo que o depoimento “não constitui uma atividade similar à prestação de provas académicas”. “Não é isso que se exige a um arguido, assistente, demandante ou testemunha”, lê-se no documento.

O tribunal indeferiu, na véspera das alegações finais, o requerimen­to da defesa que pretendia a suspensão do processo, devido ao diagnóstic­o de Doença de Alzheimer do ex-banqueiro. “Não parece decorrer do teor do atestado médico que o arguido esteja mental ou fisicament­e ausente”, escreve o juiz, que conclui que Salgado, de 77 anos, não pode beneficiar de qualquer suspensão do processo. “Nem sequer por analogia – o que se poderia, em tese, conceber no caso de um arguido se encontrar mental ou fisicament­e ausente (estado vegetativo ou similar).” Para hoje estavam marcadas para as alegações finais, que acabaram adiadas até ser marcada a inquirição da última testemunha, que hoje não pode ser ouvida. O ex-presidente do BES está a ser julgado por abuso de confiança sem nunca ter ido a tribunal.

ALEGAÇÕES FINAIS FORAM ADIADAS. SÃO OUVIDAS HOJE TESTEMUNHA­S

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal