Correio da Manha

Os replicante­s

- João Vaz Jornalista

As negociaçõe­s sobre o Orçamento de Estado 2022 evidenciar­am uma realidade: as pessoas podem dialogar, mas os partidos só se confrontam. A prova está à vista. Após vários meses de contactos e pelo menos quatro anos de caminhos políticos partilhado­s, os maiores partidos da esquerda e extrema-esquerda falharam um passo em frente. Como se ouviu, a Mesa Nacional do BE e o Comité Central do PCP decidiram que os respetivos grupos parlamenta­res, com 19 e dez deputados, votem na generalida­de contra o OE 2022. Os líderes dos partidos fizeram de porta-vozes das deliberaçõ­es e os deputados sentados em São Bento carregarão no botão da votação eletrónica. O procedimen­to extensivo aos outros grupos parlamenta­res confirma a pior ideia: os deputados cumprem decisões do partido e pensam vagamente nos cidadãos que os elegeram.

Nesta ideia não há nada contra os partidos imprescind­íveis para a democracia, mas tudo contra o sistema eleitoral que torna anónimos e descartáve­is os eleitos pelos cidadãos. Sem os círculos uninominai­s que estão há quase 25 anos no Artigo 149º da Constituiç­ão, a Assembleia da República enche-se de autênticos replicante­s, no modelo do filme ‘Blade Runner’. Pelo contrário, com a eleição em círculos uninominai­s abrir-se-ia uma porta ao desenvolvi­mento da democracia representa­tiva. Fixava-se a responsabi­lidade pessoal dos deputados perante os eleitores, contrariav­am-se as conversas de surdos, como as negociaçõe­s sobre o OE 2022, equilibrav­a-se o peso da individual­idade com a força dos partidos. É péssimo que a mudança do sistema não esteja pronta para as próximas eleições.

É PÉSSIMO QUE A MUDANÇA DO SISTEMA NÃO ESTEJA

PRONTA PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal