Correio da Manha

O líder que acabou com o apartheid

ÓBITO Frederik de Klerk libertou Nelson Mandela e liderou a transição do país para a democracia

- MANUELA GUERREIRO

Oúltimo presidente branco da África do Sul, Frederik de Klerk, morreu ontem, aos 85 anos, na sua casa, na Cidade do Cabo, vítima de cancro. De Klerk libertou Nelson Mandela e ajudou a acabar com o apartheid, tornando-se uma figura incontorná­vel da transição para a democracia, embora o seu legado seja controvers­o.

Frederik de Klerk assumiu a presidênci­a em 1989, liderando um governo de minoria branca, quando imperava o regime do apartheid - política de segregação racial. Pouco depois e surpreende­ndo o seu próprio partido - Partido Nacional - começou a revogar as leis do apartheid, incluindo a que bania o ANC (Congresso Nacional Africano). Este espírito reformista levou-o a libertar Nelson Mandela em fevereiro de 1990, pondo fim a 27 anos de reclusão. Estavam dados os primeiros passos para a democracia. Em 1993, partilhou com Mandela o prémio Nobel da Paz. E enquanto a nível internacio­nal se festejava o papel de De Klerk na transição do regime, a nível interno era criticado pela maioria negra pela sua incapacida­de em conter as injustiças e a repressão. Mas o caminho estava trilhado e, em 1994, eleições históricas, ganhas pelo ANC - os negros votaram pela primeira vez - colocaram Nelson Mandela na Presidênci­a.

De Klerk abandonou a política em 1997, mas continuou a ser uma figura polémica pela sua participaç­ão inicial no regime que acabaria por derrubar. Apesar de ter pedido desculpa várias vezes, ainda no ano passado disse que não considerav­a o apartheid como um crime contra a Humanidade. Ontem, numa última mensagem gravada em vídeo e que foi divulgada após a sua morte, voltou a pedir desculpa: “Peço desculpa por toda a dor, sofrimento, indignidad­e e danos que o apartheid causou aos negros, mulatos e indianos na África do Sul. (...) Desde o início dos anos 80, a minha posição mudou completame­nte. Foi como se tivesse tido uma conversão. Percebi que o apartheid era errado. Percebi que estávamos numa situação moralmente injustific­ável”, diz no vídeo.

DEIXOU MENSAGEM EM VÍDEO A PEDIR DESCULPA PELO APARTHEID

REAÇÕES ‘‘DESEMPENHO­U UM PAPEL FUNDAMENTA­L NA INSTAURAÇíO DA DEMOCRACIA’’ PR DA ÁFRICA DO SUL, CYRIL RAMAPHOSA

“RECONHECEU O TEMPO PARA A MUDANÇA E DEMONSTROU A VONTADE DE AGIR”

ARCEBISPO DESMOND TUTU

“PERCEBEU QUE O APARTHEID ERA ERRADO”

EX-PM BRITÂNICO JOHN MAJOR

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Frederik de Klerk (à direita) partilhou com Nelson Mandela o Prémio Nobel da Paz em 1993 pelo seu contributo para o fim do apartheid
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De Klerk tinha 85 anos

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