Correio da Manha

QUE NENHUMA INJUSTIÇA NO MUNDO FIQUE SEM DENÚNCIA

ESCRITOR LUSO-AMERICANO VOLTA AO TEMA DA PERSEGUIÇíO AOS JUDEUS E CRISTÃOS-NOVOS NO NOSSO PAÍS E DÁ A CONHECER MAIS UMA PÁGINA ESQUECIDA DA NOSSA HISTÓRIA DE PORTUGAL

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O“INTOLERÂNC­IA E PERSEGUIÇíO SÃO COMUNS, E TÊM DE ACABAR”

autor de ‘O Último Cabalista de Lisboa’ tem um título novo no mercado. Chama-se ‘A Aldeia das Almas Desapareci­das – A Floresta do Avesso’ e é o primeiro dos dois volumes com que o luso-americano Richard Zimler conta a história da perseguiçã­o aos judeus e aos cristãos novos na freguesia de Castelo Rodrigo durante o século XVII. O escritor, que recorreu aos registos da Inquisição para preparar uma obra que levou quatro anos a escrever, diz que foi “relativame­nte fácil” encontrar informação sobre uma página muito pouco – ou mesmo nada – conhecida da História de Portugal.

“Entre 1671 e 1674 viveu-se um período muito difícil em Castelo Rodrigo, já que o Santo Ofício focou muita da sua atenção e energia a perseguir os seus habitantes”, conta à Boa Onda. “No livro, utilizo nomes e datas reais, retirados dos registos da Inquisição, que guardou todos os seus processos e aos quais é fácil ter acesso através do arquivo digital da Torre do Tombo. Passei lá uns bons quatro ou cinco meses, e lá voltei mais tarde, à medida que ia escrevendo e sempre que surgia uma lacuna na minha compreensã­o ou havia uma data de que precisava.”

A FORÇA QUE VEM DA RAIVA

Habituado a enfrentar, na escrita, episódios históricos perturbado­res, Richard Zimler garante que não sofre quando mergulha em universos de grande sofrimento e explica que “a raiva dá energia física e espiritual”. “Preciso de uma chama, preciso de paixão, para me manter focado durante quatro anos. Não, não sofro. Mas a raiva dá-me força para escrever sobre esta gente esquecida e para lutar contra esse esquecimen­to”, diz o escritor de 66 anos. “Estes crimes servem para nos lembrarmos de que a intolerânc­ia religiosa, a discrimina­ção e a perseguiçã­o não são algo do passado, mas são comuns no nosso Mundo e é preciso que acabem. Nisso, todos temos um papel a desempenha­r”, conclui.

`A ALDEIA

DAS ALMAS DESAPARECI­DAS' Porto Editora

656 páginas

Preço 22,20 €

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