RUI PINTO DETIDO ANTES DE FUGIR PARA FRANÇA
REVELAÇÃO r Reuniu-se com procuradores franceses para negociar proteção em troca de segredos, mas acabou preso DCIAP r Espiou o próprio processo dois anos antes de ser capturado
Rui Pinto estava a planear mudar-se para França, mas a sua detenção, em janeiro de 2019, em Budapeste, na Hungria, estragou-lhe os planos. A colaborar com o Ministério Público francês, o pirata informático estava a negociar a entrada no programa de proteção de testemunhas em troca dos segredos do ‘Football Leaks’.
O ‘hacker’ revelou ontem em tribunal que chegou a ir a Paris, em novembro de 2018, encontrar-se com procuradores franceses. Ficou tudo acertado. Até lhe deram um telemóvel que foi apreendido pelas autoridades portuguesas - para o
“NÃO
avisar quando estivesse “iminente” a sua ida para Paris. “Combinei que ia resolver a minha vida em Budapeste e depois iria agendar-se uma data para eu ir para território francês”, afirmou.
Questionado pelos juízes sobre a falta de interesse em colaborar com o Ministério Público (MP) português quando foi detido, Rui Pinto explicou que “não tinha confiança nas autoridades portuguesas”. “O MP pensava que tinha tudo controlado. Mas eles mal sabiam o que vinha uns meses mais tarde com o ‘Luanda Leaks’”, continuou. O braço de ferro durou cerca de um ano. Rui Pinto acabou por aceitar colaborar com as autoridades portuguesas em troca de proteção e da suspensão provisória de processos.
Na mesma sessão de julgamento, no Campus de Justiça, em Lisboa, Rui Pinto admitiu ainda que acedeu ao próprio processo dois anos antes de ser detido. Como? Entrou no email de Amadeu Guerra, então diretor do DCIAP, o departamento do MP que o investigava. “O Amadeu Guerra era adepto benfiquista e os processos onde eu era suspeito tornaram-se prioridade para a sua equipa”, vincou. O ‘hacker’ responde por mais de 300 acessos aos servidores da Procuradoria-Geral da República. Rui Pinto diz que foi feita uma “pesca de arrasto”. O objetivo era “apanhar tudo de uma vez e só depois analisar a sua relevância”.n
TINHA CONFIANÇA NAS AUTORIDADES PORTUGUESAS”