“O fumo era imenso. Só se ouviam gritos”
INCÊNDIO Chamas no coração da capital provocaram dois mortos, 14 feridos e desalojaram 21 pessoas. Família do Bangladesh viveu horas de pânico e ficou sem nada ª CONDIÇÕES Na casa onde começou o fogo vivem 16 imigrantes
u “Onde é que vamos agora?”, esta é a pergunta que assombra um dos imigrantes, originário do Bangladesh, que ficaram desalojados na sequência do incêndio que deflagrou, sábado à noite, num prédio na Mouraria, em Lisboa, e que provocou a morte a duas pessoas. “O fumo era tanto, que tivemos de fugir. Só se ouviam gritos”, disse ontem, poucos minutos depois de ter alta. Ainda com as roupas do hospital, homem, mulher e filha, de 9 anos, olhavam desolados para o prédio que ficou inabitável.
“Não temos dinheiro, comida, roupas, medicamentos. Nada. Ficámos sem-abrigo”, afirmou o imigrante. A família vive no terceiro andar do n.º 55 da Rua do Terreirinho, mas foi no rés do chão que o fogo começou e onde, segundo contam, o modo de vida é quase desumano: dezenas de imigrantes dormem como que empilhados e há gente a entrar e a sair constantemente.
“Este é só mais um caso na zona do Martim Moniz e da Mouraria em que o senhorio pensa que só tem um inquilino que paga a renda e depois o inquilino subaluga”, explicou ao CM Taslim Rana, líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa, referindo que as duas vítimas mortais do incêndio, um rapaz de 14 anos, e um homem de 30, eram originários do estado indiano do Punjab e estavam em
Portugal há pouco tempo.
Na casa onde começou o incêndio residiam 16 pessoas e no momento em que as chamas deflagraram estavam no prédio 37. Alguns contaram a Taslim Rana a sua versão do que aconteceu: “Um dos residentes no apartamento estava a cozinhar. O fogão começou a arder e ele fechou a porta da cozinha. Não chamou os bombeiros. O fumo acumulou-se, algumas pessoas fugiram e conseguiram escapar, mas houve quem não conseguisse e tentasse até saltar do prédio.” O apartamento, com cerca de 50 metros quadrados, ficou totalmente destruído.
No incêndio ficaram feridas 14 pessoas, quatro das quais crianças, a maior parte por inalação de fumo. Um dos feridos é português mas não reside no edifício. Ficaram desalojadas 21 pessoas.