O voo decisivo
Muito se tem falado e escrito sobre a TAP. É escusado explicar porquê, pois, no geral, todos o sabemos, com maior ou menor profundidade e para lá de maior ou menor interesse pelo tema. Muito se tem debatido politicamente sobre o que representou privatizar, depois nacionalizar a metade, depois o todo do capital e agora a decisão de privatizar novamente.
Desta vez, tomando como bom o que é anunciado, ou pelo menos admitido, haverá grandes companhias aéreas interessadas na aquisição. Sem depreciar, não serão “só” um importante operador de transportes português e um empresário do setor com a atividade nos Estados Unidos e no Brasil.
A questão principal agora já não é de discutir as culpas do êxito ou fracasso de cada uma das anteriores fases. O essencial, neste momento e a partir daqui, é privatizar bem, e privatizar inclui não só a consideração do preço proposto, mas também outros fatores muito relevantes para os interesses estratégicos nacionais.
Aliás, essa ponderação deve, naturalmente, sempre ser feita quando estão em causa decisões em setores vitais da economia. Esse debate já foi feito noutras ocasiões, quando de outras privatizações em domínios estratégicos.
Ter em conta a nossa posição geográfica, as nossas relações com as diferentes partes do mundo, nomeadamente com os Países de
Expressão Lusófona, a devida atenção às nossas comunidades emigrantes, a nossa relação com a União Europeia, as características da nossa economia e a importância que nela tem a área do turismo, as características fortemente concorrenciais nessa atividade económica, são alguns exemplos do muito que importa avaliar antes de se saber a decisão a tomar. Como é óbvio, serão muito relevantes o programa de concurso, o caderno de encargos e eventuais contrapartidas para Portugal, para além da financeira. O que não se pode, daqui para diante, é tornar a TAP num instrumento de contendas partidárias ou tema de recurso das polémicas parlamentares.
O que não se pode, daqui para a frente, é tornar a TAP num instrumento de contendas partidárias
Obviamente que o futuro da TAP, mesmo ligado a outra companhia, é algo nos continuará sempre a interessar muitíssimo. A não ser que se assista ao colapso das empresas detentoras do que antes se chamavam companhias de bandeira e ao triunfo das low-cost, esta é uma matéria que continuará sempre a ser importante para o dia a dia dos Portugueses.
Por isso importa que se trabalhe em conjunto, e que ninguém se feche: falo da oposição e também muito do governo.