Lado lunar Fazer contas
Segundo relatos que saíram da dita prestação de contas do Governo ao Presidente da República, sobre a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que teve lugar no antigo Museu dos Coches, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa verão dois Países diferentes nesta matéria. O noticiado, pelo seu ineditismo, merece algumas considerações.
Antes do mais, o próprio propósito da sessão. Se bem me lembro, nem eu, Primeiro-Ministro não eleito, fiz qualquer prestação de contas pública ao então Presidente da República. Não estou a criticar, nem a elogiar. Mas que é surpreendente o tom com que a cerimónia foi divulgada, é.
Segunda nota inédita é a da assunção, não desmentida, da vincada diferença entre o Chefe de Estado e o Chefe de Governo. Têm sido muitas as ocasiões de convergência entre os dois e algumas as situações em que divergem. Mas quando esses desencontros ocorreram, no geral, têm procurado não “carregar nas tintas”.
Houve momentos mais duros como aquele em que Marcelo exigiu a saída da Ministra da Administração Interna, Constança
Urbano de Sousa. Mas não propriamente foi assumida uma confrontação política. Nos últimos tempos, o Presidente não se tem coibido de marcar distâncias. Mas afirmação, mesmo que através de jornalista, de uma oposição tão vincada e em matéria tão significativa, não tem precedentes.
Terceira nota, de diferente teor. Não quererão organizar sessões idênticas em cada uma das áreas das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR)? Pede o trabalho dessas entidades e das CIM, estamos num momento muito complexo ainda entre o desenvolvimento do Plano de Recuperação e Resiliência e o arranque do 2030 (e, nalguns casos, o fecho do 2020).
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa verão dois Países diferentes sobre a execução do PRR
Não falo, naturalmente, de prestar contas. Falo tão-só de se fazerem as contas para cada Município, saber com o que conta. É, sem dúvida, importante que o Presidente da República saiba exatamente o que se passa. Mas acreditem, sem comparar, que é essencial esse trabalho com os Presidentes de Câmara (e, claro, com as empresas e o terceiro setor) para que a execução dos fundos à nossa disposição tenham um nível de execução à altura das necessidades do País.