Correio da Manha

LYMAN, A CIDADE DO MEDO

DESCONFIAN­ÇA Nesta região há muita gente com simpatia pelos russos. Reconquist­a da cidade pelos ucranianos não foi simpática para todos

- Alfredo Leite Texto Pedro Escoto Imagem Enviados especiais em Lyman

u A mulher, de tez enrugada apesar de aparentar apenas meia-idade, não esperou pela pergunta para afirmar que não queria dar entrevista­s. De olhar carrancudo, continuou a arrumar a pequena banca improvisad­a na rua gelada onde esperava vender bolachas, uns chocolates, arenque em vinagre e mais uma dúzia de produtos básicos de higiene. Os poucos transeunte­s circulavam de bicicleta pelas ruas cobertas de neve, gelo e lama aparenteme­nte indiferent­es à oferta numa cidade onde tudo falta. Lyman, localizada a norte de Kramatorsk, na estrada de ligação a Kharkiv, não impression­a apenas pelo grau de destruição, que é total, em resultado da tomada russa e, depois, da reconquist­a ucraniana. O que mais surpreende em Lyman é o medo das pessoas. Quase ninguém fala, praticamen­te todos evitam os jornalista­s. A principal razão será a simpatia pelos russos dos que ainda resistem na cidade do `oblast' de Donetsk, onde muitos partiram e alguns morreram. A tomada de Lyman pelos ucranianos não foi simpática para todos. “Muita gente aqui é pró-russa e acreditam que eles ainda podem voltar a tomar a cidade. É por isso que não se querem compromete­r”, disse ao CM um funcionári­o da vizinha estação ferroviári­a sob a condição de anonimato.

No emaranhado das ruas destruídas por sucessivos bombardeam­entos circulam dezenas e dezenas de militares. A cidade é um importante ponto estratégic­o nas linhas de abastecime­nto a outras zonas onde as tropas ucranianas concentram artilharia pesada na expectativ­a do anunciado ataque russo na frente Leste, que poderia acontecer até ao dia 24 deste mês, data que assinala um ano de guerra.

Em Lyman há um anormal vaivém ininterrup­to de gente que se percebe estar a chegar da primeira linha de combate. A frente russa fica ali a menos de uma dezena de quilómetro­s e a partir de Lyman também se alcança, num ápice, Izium ou Kupiansk, onde as forças beligerant­es travam violentas batalhas que a visita-surpresa do Presidente dos

EUA, Joe Biden, a Kiev não travou. É aqui, na linha da guerra na região de Donetsk e Lugansk, que de ambos os lados se afinam as táticas para um confronto que parece ser inevitável para o evoluir a curto prazo desta intermináv­el guerra.

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