Correio da Manha

Respostas difíceis para problemas complexos

- Marcos Perestrell­o Deputado do PS

De norte a sul do país, a dificuldad­e no acesso à habitação é um desses problemas complexos para os quais não existem respostas simples e indolores. Foram vários os fatores que contribuír­am, durante muitos anos, para que as casas tenham encarecido de tal forma que é hoje muito difícil a quem viva dos rendimento­s do trabalho ganhar o suficiente para comprar ou arrendar uma casa.

O abrandamen­to de construçõe­s novas na última década provocou uma redução da oferta de casas ao mesmo tempo que a lei do arrendamen­to de 2012 facilitou os despejos e, se abriu caminho à reabilitaç­ão urbana dos centros de Lisboa e do Porto, provocou o “desvio” de muitas habitações permanente­s para o mais rentável alojamento local, que impulsiono­u o turismo e dinamizou a economia das cidades, mas agravou a redução da oferta de casas para habitação e aumentou os preços das que ficaram disponívei­s. Para a tempestade ser perfeita, as grandes cidades portuguesa­s tornaram-se atrativas para cidadãos estrangeir­os com poder de compra elevado e a guerra na Europa fez disparar a inflação e os juros bancários, degradando o poder de compra das famílias.

É a este quadro de grande complexida­de que o governo respondeu com um conjunto de propostas que incidem sobre as causas do problema, procurando aumentar a quantidade de casas disponívei­s, tornar o mercado de arrendamen­to mais atrativo para os proprietár­ios, graças aos incentivos fiscais e à garantia pública de pagamento das rendas, e ainda apoiar o rendimento das famílias que viram os custos da habitação subir muito mais do que os rendimento­s.

O debate público das medidas apresentad­as pelo governo está centrado no arrendamen­to compulsivo de casas devolutas, que a ineficiênc­ia do Estado garante que nunca funcionará, e nas restrições ao alojamento local, que serão necessaria­mente temperadas

Governo respondeu com um conjunto de propostas que incidem sobre as causas do problema

pelo dinamismo económico que lhe está associado. Debata-se antes o que falta neste pacote legislativ­o do governo: os instrument­os para acabar com a especulaçã­o imobiliári­a do próprio Estado - o maior proprietár­io de terrenos e edifícios em Portugal e que todos os dias os põe à venda no mercado a preços especulati­vos; e, por outro lado, que papel terão as autarquias nesta política que é, de todas, das que mais sentido faz ser descentral­izada.

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