Correio da Manha

Há um ano ainda não sabíamos, hoje também não

- Luís Campos Ferreira Gestor

Faz hoje um ano, ainda não sabíamos que estávamos a viver o último dia do mais longo período sem guerra em solo europeu. No dia seguinte, acordaríam­os com a notícia da invasão da Ucrânia pela Rússia, marcando o início de uma guerra que veio mudar a vida de milhões e milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo a nossa. Hoje, a nossa ignorância é de outro tipo: ninguém sabe quando e como esta guerra vai acabar.

As imagens que nos chegam todos os dias das frentes de combate – pessoas em desespero, casas e cidades arrasadas, soldados e tanques no terreno – não nos permitem que nos desliguemo­s da realidade da guerra que continua a matar e a destruir, embora a fadiga tenda a deixar-nos anestesiad­os e relativame­nte indiferent­es ao que se passa na Ucrânia. E na Ucrânia há um povo que resiste, que continua a resistir perante as investidas da gigante Rússia, o invasor que contava resolver o assunto em três dias. Desta vez não foi assim. Volodymyr Zelensky revelou-se um líder com tanto de improvável como de determinad­o em não deixar o seu país cair nas mãos de Putin. Está a conseguir. Pela sua capacidade de liderança, pela sua coragem, pelo apoio incondicio­nal que tem do seu povo, mas também porque teve o condão de mobilizar a Europa e todo o mundo ocidental para a sua causa, que é, afinal, a nossa causa. A causa da democracia, a causa da liberdade, a causa dos valores civilizaci­onais que partilhamo­s. Nesta guerra há, irremediav­elmente, dois lados. E não há como ficar a meio da ponte.

Um ano de guerra na Ucrânia trouxe todo um novo léxico para as nossas vidas, ainda há pouco tempo saídas de um outro tipo de inédito sobressalt­o, como foi a pandemia de Covid-19. Trouxe também consequênc­ias muito reais mesmo para quem está a vários milhares de quilómetro­s do centro do conflito. Não preciso de as nomear, o leitor, como eu, também as sente. Para quem viveu outras guerras, reabriu

Na Ucrânia há um povo que resiste, que continua a resistir perante as investidas da gigante Rússia

memórias decerto dolorosas. Para quem nunca as viveu, trouxe uma certeza: nada temos como garantido. As últimas declaraçõe­s dos líderes mundiais, de Putin e de Biden, não baixam a temperatur­a nem a pressão, pelo contrário. O presidente norte-americano dá garantias de que jamais deixará a Ucrânia entregue à sua sorte. O russo acena com a ameaça nuclear. A política e a diplomacia demoram a dar frutos, num tempo que já não deveria (nunca deveria) ser de guerra.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal