Há um ano ainda não sabíamos, hoje também não
Faz hoje um ano, ainda não sabíamos que estávamos a viver o último dia do mais longo período sem guerra em solo europeu. No dia seguinte, acordaríamos com a notícia da invasão da Ucrânia pela Rússia, marcando o início de uma guerra que veio mudar a vida de milhões e milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo a nossa. Hoje, a nossa ignorância é de outro tipo: ninguém sabe quando e como esta guerra vai acabar.
As imagens que nos chegam todos os dias das frentes de combate – pessoas em desespero, casas e cidades arrasadas, soldados e tanques no terreno – não nos permitem que nos desliguemos da realidade da guerra que continua a matar e a destruir, embora a fadiga tenda a deixar-nos anestesiados e relativamente indiferentes ao que se passa na Ucrânia. E na Ucrânia há um povo que resiste, que continua a resistir perante as investidas da gigante Rússia, o invasor que contava resolver o assunto em três dias. Desta vez não foi assim. Volodymyr Zelensky revelou-se um líder com tanto de improvável como de determinado em não deixar o seu país cair nas mãos de Putin. Está a conseguir. Pela sua capacidade de liderança, pela sua coragem, pelo apoio incondicional que tem do seu povo, mas também porque teve o condão de mobilizar a Europa e todo o mundo ocidental para a sua causa, que é, afinal, a nossa causa. A causa da democracia, a causa da liberdade, a causa dos valores civilizacionais que partilhamos. Nesta guerra há, irremediavelmente, dois lados. E não há como ficar a meio da ponte.
Um ano de guerra na Ucrânia trouxe todo um novo léxico para as nossas vidas, ainda há pouco tempo saídas de um outro tipo de inédito sobressalto, como foi a pandemia de Covid-19. Trouxe também consequências muito reais mesmo para quem está a vários milhares de quilómetros do centro do conflito. Não preciso de as nomear, o leitor, como eu, também as sente. Para quem viveu outras guerras, reabriu
Na Ucrânia há um povo que resiste, que continua a resistir perante as investidas da gigante Rússia
memórias decerto dolorosas. Para quem nunca as viveu, trouxe uma certeza: nada temos como garantido. As últimas declarações dos líderes mundiais, de Putin e de Biden, não baixam a temperatura nem a pressão, pelo contrário. O presidente norte-americano dá garantias de que jamais deixará a Ucrânia entregue à sua sorte. O russo acena com a ameaça nuclear. A política e a diplomacia demoram a dar frutos, num tempo que já não deveria (nunca deveria) ser de guerra.