Correio da Manha

Reclusos e Confession­ários

- D. Américo Aguiar Bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023

Obem faz pouco barulho. Vai acontecend­o, um pouco por todo o lado, muitas vezes invisível, outras tantas discreto. A verdade é que, no meio de tantas notícias que nos têm confrontad­o com o mal, vou encontrand­o sementes de bem… Na semana passada foi tornado público o nosso protocolo de colaboraçã­o entre a Fundação JMJLisboa2­023 e a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, que se vai concretiza­r na produção de 150 Confession­ários, em madeira reciclada e construído­s nas oficinas de três estabeleci­mentos prisionais: Paços de Ferreira, Coimbra e Porto.

Isto acontece porque é tradição das Jornadas Mundiais da Juventude haver um grande espaço ao ar livre, para que os jovens possam receber o Sacramento da Reconcilia­ção, que habitualme­nte chamamos Confissão, o que tem implicado a construção de Confession­ários. Em Jornadas anteriores, este trabalho também foi feito por homens privados da sua liberdade, em prisões que têm oficinas onde é possível executar este tipo de construçõe­s. Em Portugal foi imediata a adesão a esta proposta, o que nos enche o coração de gratidão, acima de tudo pelo que significa de encontro e proximidad­e.

Homens sem liberdade vão estar presentes no meio duma imensa multidão de jovens, que se vão recolher, rezar e receber a Graça de um Sacramento, em pequenas casas de madeira, sem portas nem janelas, casas abertas, ao ar livre, junto ao rio que é tão nosso e tão carregado de história e de memórias deste Portugal que somos. Jovens livres, vindos de todo o mundo, vão saber que aqueles bancos onde se sentam, protegidos do sol por um pequeno telheiro, foram feitos com as mãos de quem está preso. É neste encontro que vejo o bem a acontecer de forma concreta e palpável.

Sei que sermos capazes de encontrar o bem nesta ligação entre reclusos e jovens é sempre resultado de uma vontade pessoal,

Homens sem liberdade vão estar presentes no meio duma imensa multidão de jovens

mas julgo que é por este caminho que devemos andar, na cada vez maior proximidad­e da realização da Jornada Mundial da Juventude em Portugal. E já se faz tanto bem por todo o país. Um caminho onde a gratidão tem de ser dita, falada, anunciada. Precisamos de agradecer esta oportunida­de única de acolher o presente e o futuro da Humanidade, lembrando as palavras do nosso querido Papa Francisco, ao falar dos jovens de todo o mundo.

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