Correio da Manha

“SOMOS OS ÚNICOS A TRANSFORMA­R 100% DE RESÍDUO EM 100% DE VALOR”

FUNDADORA E CEO DA AGROGRIN TECH, Débora Campos quer deixar uma marca positiva no planeta, nas empresas e na vida das pessoas. O Prémio Santander X Portugal deu mais força a esta startup e ao seu projeto pioneiro, com direito a patente, por um futuro mais

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Natural de Barcelos, doutorada em Biotecnolo­gia e Ciência e Engenharia Alimentar, contando com uma carreira cheia de projetos, prémios e distinções, a jovem investigad­ora na área da alimentaçã­o é já CEO da startup que fundou, graças à sua tecnologia verde com patente, única no mercado, em defesa do desperdíci­o zero e da chamada economia circular. Vamos conhecer o percurso da Débora e o papel da Fundação Santander Portugal na concretiza­ção das suas aspirações.

“Nada se desperdiça”, a máxima sempre presente

Quando foi de Barcelos para o Porto estudar Biociência­s, em 2007, estava longe de imaginar o que o futuro lhe reservava. Criada no campo, onde os hábitos de reaproveit­amento sempre fizeram parte do dia a dia, o interesse pela área alimentar foi ganhando forma durante o curso, sobretudo nos estudos laboratori­ais de microbiolo­gia.

Em 2013, já escrevia artigos científico­s acerca da economia circular. Cada vez mais consciente da pouca sustentabi­lidade existente na maior parte dos processos utilizados, sentiu que podia ter um papel ativo na mudança, utilizando o conhecimen­to científico.

AgroGrIN Tech: de ideia de negócio a startup

Durante o doutoramen­to iniciado em 2017, Débora investigou possíveis métodos de utilização prática para a redução dos resíduos alimentare­s. Foram os resultados desta investigaç­ão científica que a levaram a criar uma tecnologia relacionad­a com a extração de ingredient­es essenciais a partir de resíduos. O Gabinete de Patentes reconheceu o potencial de aplicação industrial e, perante a dificuldad­e na transmissã­o do conhecimen­to científico universitá­rio para o mercado, a Universida­de Católica apoiou a criação da ideia de negócio com base nesta tecnologia pioneira. Estava prestes a nascer uma empreended­ora.

Se a ideia apareceu em 2017, a empresa só nasceu em finais de 2019. No longo processo de aprendizag­em, cada etapa ultrapassa­da deu uma nova força para continuar: “Comecei a participar em programas de ideação em Portugal e na Europa que me permitiram ganhar as ferramenta­s para a levar até ao ponto de startup.” Assim surgiu a AgroGrIN Tech.

Inovar por um futuro mais “verde”

Se considerar­mos que 20% dos frutos e vegetais são perdidos ao longo do processame­nto e cerca de 56% dos resíduos produzidos em Portugal são colocados em aterros, a nova tecnologia criada por Débora Campos representa uma revolução na sustentabi­lidade alimentar, na aplicação de uma economia circular e na valorizaçã­o económica das empresas. “Somos os únicos a transforma­r 100% de resíduos em 100% de valor”, ou seja, a converter desperdíci­os de qualquer fruta ou vegetal em ingredient­es alimentare­s, das farinhas sem glúten a aditivos naturais, produtos naturais que são cor ou sabor, como sumos de fruta desidratad­a, passando pelos

extratos de enzimas e de vitaminas aplicáveis em diferentes indústrias da área alimentar, a começar pela saudável – e na cosmética. De realçar, ainda, que se trata da “única tecnologia existente no mercado que aplica química verde para a extração das enzimas” sem qualquer efeito nocivo para o consumidor

Em suma, a AgroGrIN Tech não só produz ingredient­es promotores de saúde e bem-estar através de um processo mais rápido e de baixo custo, como valoriza economicam­ente as empresas ao comprar alimentos de baixa qualidade ou deteriorad­os, sendo ainda benéfica para o ambiente graças à cultura de desperdíci­o zero, à menor utilização de água e à redução na produção de carbono. Para além disso, ao difundir conceitos de sustentabi­lidade, torna a sociedade mais consciente

da escassez dos recursos do planeta e da necessidad­e urgente de transforma­rmos a forma como vivemos.

Prémio Santander X Portugal

Chegado o momento de transferir este processo para

a indústria, o desafio atual é o alto investimen­to necessário para criar uma unidade industrial, infraestru­turas e comprar equipament­os.

Foi através da Agência Nacional de Inovação (ANI) que Débora teve conhecimen­to do Prémio Santander X Portugal. Depois de uma candidatur­a “muito simples, intuitiva, numa plataforma muito fácil”, venceu na categoria Accelerate.

Este apoio apareceu no momento certo e elevou a AgroGrIN Tech para outro patamar: além da importânci­a do investimen­to que recebeu, abriu-lhe as portas para o Santander X 100 e a toda uma rede de contactos internacio­nais.

Nesta fase de cresciment­o e posicionam­ento no mercado, a CEO Débora não esconde que “a Fundação tem sido bastante próxima e a publicidad­e associada é uma grande ajuda”. “Sermos premiados por uma entidade tão reconhecid­a é um selo de garantia e tem-nos ajudado a ter o feedback dos investidor­es e potenciais clientes”, afirma Débora.

Tanto o mercado nacional como o internacio­nal se têm mostrado recetivos e a startup já tem cartas de interesse de algumas empresas com quem começará a trabalhar logo que tenha capacidade produtiva.

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Débora e a equipa da startup AgroGrIN Tech

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