AS DEBANDADAS DA RTP
Foi notícia há dias a saída de um repórter do ‘daytime’ da RTP para a TVI. Idevor Mendonça, assim se chama o talentoso e promissor profissional, foi o mais recente rosto de uma debandada que vai secando a RTP. Antes de mais, gostaria de deixar aqui uma dica para uma reflexão da administração da RTP: os que saem não fazem barulho e os que fazem barulho não saem. Os que apregoam ou mandam apregoar através da ‘imprensa da especialidade’ que têm mercado (não o tendo) são recompensados com renovações de contratos, e os que se fazem notar pela sua competência e qualidade profissional são resgatados pelo mercado que, de facto, os chama. Esta falta de capacidade de retenção do talento tem vindo a provocar sucessivas baixas na estação pública e reiterada promoção da mediania, quando não da mediocridade. João Fernando Ramos, Estela Machado, Ana Guedes Rodrigues, Mário Carneiro, Hugo Andrade, Pedro Fernandes, Eduardo Madeira ou João Baião são nomes que deixaram de fazer parte do elenco de profissionais da estação pública e que têm em comum terem sido reconhecidos pelo mercado. A RTP assiste a esta debandada com a mesma apatia com que regista a saída gradual e irreversível dos seus espectadores e não consegue relacionar os dois factos: a perda de qualidade dos seus comunicadores acarreta a erosão mais profunda das audiências. Convém ter uma noção daquilo de que estamos a falar: nesta altura a RTP 2 tem menos espectadores do que a SIC Mulher, a TVI Ficção ou a RTP Memória, e esta última tem o mesmo número de espectadores do que a RTP 3. Visto de outra maneira: as audiências somadas de RTP 2, RTP 3 e RTP Memória são inferiores a 3%. Um último dado a reter para ilustrar a debandada: no consulado dos seus atuais diretores de programas, a RTP 1 perdeu 10% dos seus espectadores e a RTP 2 perdeu 60%. Nada que tire o sono a Nicolau Santos, ao que me dizem, a contar os anos para a reforma. Sem os melhores profissionais, sem público mas com gastos: atualizando quanto nos custa a RTP com dados retirados da atualidade, são quatro Alexandras Reis por cada cinco dias ou três altares-palcos da Jornada Mundial da Juventude por cada mês.