O anticiclone dos Açores pode ter efeitos no clima da política nacional
As eleições de domingo nos Açores tiveram como resultado a vitória da coligação liderada pelo PSD, a derrota do PS e a subida do Chega, enquanto o PCP confirma o risco de extinção nas nove ilhas do arquipélago. A primeira leitura é obviamente local. O presidente do Governo da região, José Manuel Bolieiro, recebeu um voto de confiança dos eleitores, enquanto o PS, que durante quase três décadas foi a força partidária mais votada, está agora longe da hegemonia conquistada no tempo do cesarismo.
Mas também há leituras nacionais. Obviamente que Luís Montenegro tem razões para sorrir com o anticiclone político dos Açores. Não só porque a coligação encabeçada pelo PSD ganhou, mas porque mudou a narrativa política a nível nacional sobre o `elefante na sala' que incomodava mais a campanha da AD. O elefante é a ascensão do Chega e nos Açores o PSD colocou esse ónus nas mãos do PS.
Na prática, a AD diz ao PS que se viabilizar uma solução governativa de José Manuel Bolieiro, e para isso basta a abstenção dos socialistas no Parlamento regional, não haverá necessidade de haver acordos com o partido de André Ventura.
Não é uma novidade política no País, já aconteceu no passado quando o PSD liderado por Marcelo Rebelo de Sousa aprovou Orçamentos que viabilizaram o Governo minoritário socialista liderado por António Guterres.
Mas se nos Açores o Chega viu reforçado o seu peso, a nível nacional, todas as sondagens divulgadas nas últimas semanas apontam para uma subida ainda mais forte dos partidários de André Ventura. Hoje já ninguém se admira se o partido que passou de 1 para 12 deputados em 2022 alcançar um grupo parlamentar de 50 representantes eleitos na próxima legislatura.
Isso significa que o elefante na sala se tornará cada vez mais incontornável e sem maiorias absolutas, quer do PS, quer da AD e se não
O resultado das eleições regionais dos Açores permitem uma mudança da narrativa política no País
houver maioria de 116 deputados entre os socialistas e os partidos à sua esquerda, a alternativa que se coloca é um Governo com
Chega, ou um regresso de um modelo do bloco central, quer seja na versão Guterres-Marcelo, ou na versão Soares-Mota Pinto.
Mas quem decide a 10 de março são os eleitores. O povo é mesmo soberano e é quem escolhe a composição do Parlamento. E só depois se farão as contas para se saber quem irá para o Governo.