Correio da Manha

A violência sexual é uma teia de silêncio

- Rute Agulhas Coordenado­ra do Grupo Vita

Aviolência sexual contra crianças e jovens acontece, quase sempre, entre quatro paredes. Quer isto dizer que não existem testemunha­s e que apenas as pessoas envolvidas – a vítima e o agressor - têm conhecimen­to da situação. A principal motivação do agressor é a manutenção do segredo e, para o conseguir, pode recorrer a diferentes estratégia­s. Quando se trata de uma criança mais nova, tende a aproveitar-se da sua imaturidad­e e pode mascarar os seus comportame­ntos e atribuir-lhes um duplo significad­o, dizendo, por exemplo, que se tratam apenas de “festinhas”, “massagens” ou “cócegas”. As crianças mais pequenas acreditam e mantêm o segredo, porque não compreende­m sequer o que se passa.

O agressor sexual também utiliza a culpa como um poderoso indutor de segredo. Diz à criança que esta provocou a situação e que dela retira prazer – o que, por vezes, acontece -, fazendo-a sentir-se culpada e também muito envergonha­da.

Ao mesmo tempo, leva a criança a pensar que, se contar, ninguém irá acreditar em si, pois não existem provas e será apenas a sua palavra contra a do adulto. A ausência de indícios e a crença de que não será credível levam a criança a manter-se em silêncio.

Muitos agressores também induzem medo e ameaçam a criança que, com receio de eventuais consequênc­ias negativas, para si mesmas ou para outras pessoas, refugia-se no segredo.

Por isso, dizemos que a violência sexual é como uma teia de silêncio, na qual a vítima se sente aprisionad­a e sem saída. O adulto de quem tantas vezes gosta e em quem confia revela-se, afinal de contas, uma pessoa com duas caras, que assume dois papeis distintos.

É importante compreende­r as dinâmicas do segredo e as razões pelas quais tantas vítimas se mantêm em silêncio. Só com esta compreensã­o poderemos, depois, estar preparados

É importante compreende­r as razões pelas quais tantas vítimas se mantêm em silêncio

para escutar as vítimas que revelam e pedem ajuda, sem as culpabiliz­ar nem emitir juízo de valor.

Acompanhe-nos e saiba mais sobre a violência sexual no contexto da Igreja Católica em Portugal e sobre o trabalho do Grupo VITA.

Pode contactar o Grupo VITA através do telemóvel 91 509 0000 ou do email geral@grupovita.pt. Saiba mais sobre nós em www.grupovita.pt.

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