O país pronto a desembrulhar de António Costa
Com o conjunto das esquerdas num frangalho e, por via disso, arruinado o sonho de uma reedição de 2015, o PS vira-se para o que sabe fazer melhor: criar narrativas com as quais possa viver e convencer nos tempos que aí vêm. Para quem já não se lembra, foi António Costa a dar o mote, no primeiro dos discursos que fez na campanha do PS, no Porto, ao dizer que a grande dificuldade de Pedro Nuno Santos, como futuro primeiro-ministro, ia ser arranjar tempo para inaugurar todas as obras lançadas pelo seu governo e que alegadamente estão quase prontas, mesmo na calha para serem inauguradas pelo novo governo. Na boca de Costa, seriam tantas obras a inaugurar que o pobre Pedro Nuno nem saberia para que lado se haveria de virar. Uma mão-cheia de hospitais, centros de saúde às centenas, camas aos milhares nas residências universitárias, quilómetros de estradas e de linhas férreas. O ainda primeiro-ministro nem sequer se inibiu de fazer piadas com os muitos médicos de família excedentários que haverá lá para 2026. Se na altura esta abordagem já pareceu uma valente canelada no candidato do seu próprio partido, agora, que quem ganhou as eleições foi a AD, fica claro que esta narrativa do país prontinho a desembrulhar é a rasteira com que o PS quer deitar abaixo o novo governo que Luís Montenegro vai formar e liderar. Os socialistas querem fazer crer que deixam ao futuro governo um legado perfeito, a quem entregam um país onde está tudo bem, a rolar às mil maravilhas. Com o PRR a fervilhar de projetos e em adiantada execução. Com a economia a gerar dinheiro como nunca se viu. Em que Montenegro – já que não foi Pedro Nuno – só terá de se preocupar com a escolha das gravatas que vai usar nas inaugurações dia sim, dia sim. Logo, se mesmo com uma herança deste calibre o governo da AD falhar é porque não está à altura da situação, dirão os socialistas. O problema é que esta narrativa de que o PS entrega um país a funcionar é mentira pegada. Uma mentira que PNS tentou que colasse na campanha e que conduziu ao resultado que se viu, ou seja, à enorme
Os socialistas querem fazer crer que deixam ao futuro governo um legado perfeito
derrota do PS. O que na verdade espera Montenegro é um país que, em muitas áreas essenciais para a vida das pessoas, está feito em cacos e que será preciso reconstruir com urgência. Dificuldades acrescidas para quem vai governar em minoria, e que exigirá capacidade de negociação e diálogo infinita. A questão não é se Montenegro estará à altura da tarefa hercúlea que o espera. É mais se as oposições estarão à altura da responsabilidade democrática que os eleitores lhes confiaram com os seus votos.