Tácticas e mais tácticas
Tal como temos os partidos anti-sistema que só querem fazer parte do sistema, também temos os partidos anti-tácticas que não fazem outra coisa senão agir tacticamente. Na noite eleitoral, Pedro Nuno Santos anunciou que, com ele na liderança da oposição, acabavam-se as tácticas. Um anúncio táctico com que reconheceu a mudança de posição do Partido Socialista no xadrez político nacional, mas também para assinalar uma eventual mudança de táctica em relação ao seu antecessor, António Costa. Devo dizer que não desconsidero a táctica enquanto meio ou instrumento legítimo para se alcançar determinados objectivos políticos. Coisa diferente é fazer da táctica política um fim em si mesmo e o único combustível da dialéctica política. Isto geralmente quer dizer que não se tem qualquer rumo definido, nem se sabe para onde se quer ir. Durante os primeiros seis dos seus oito anos de governação, Costa foi o rei do tacticismo político, investindo toda a sua energia e habilidade na manutenção do poder. Quando a maioria absoluta o dispensou dessa necessidade permanente de tacticismos, Costa não soube o que fazer – e o desfecho foi o que se conhece.
Apesar de dizer o contrário, é óbvio que Pedro Nuno também joga tacticamente para se tentar manter à frente do PS até às próximas eleições legislativas, que podem não ser tão próximas quanto isso. Foi táctico quando disse que não ia aprovar um orçamento da AD. E é novamente táctico quando, agora, diz que está disponível para aprovar um orçamento rectificativo da AD.
PNS invoca razões programáticas e de identidade ideológica para estas tomadas de posição. Mas é evidente que as razões são fundamentalmente do campo do mais puro tacticismo político. No primeiro caso, o PS antecipa a sua indisponibilidade para viabilizar um orçamento da AD de forma a poder continuar a alimentar dúvidas (e suspeições) sobre uma eventual relação futura do PSD com o Chega. No segundo caso, e estando em causa uma possível acomodação orçamental de medidas que serão populares
O PS vai fazer oposição como governou: a pensar tacticamente no que é melhor para si
para o governo que as implementar (aumentar os salários dos professores, dos polícias, dos profissionais de saúde e dos oficiais de justiça), Pedro Nuno Santos não quer ficar fora do retrato, mesmo que para isso tenha de aparecer ao lado de André Ventura, que também já se mostrou disponível para dar a sua aprovação a estas medidas. Começa a ficar claro que o PS vai fazer oposição como governou: a pensar tacticamente no que é melhor para si, em vez de pensar no que é estruturalmente melhor para o país.