Correio da Manha

Tácticas e mais tácticas

- Luís Campos Ferreira Gestor

Tal como temos os partidos anti-sistema que só querem fazer parte do sistema, também temos os partidos anti-tácticas que não fazem outra coisa senão agir tacticamen­te. Na noite eleitoral, Pedro Nuno Santos anunciou que, com ele na liderança da oposição, acabavam-se as tácticas. Um anúncio táctico com que reconheceu a mudança de posição do Partido Socialista no xadrez político nacional, mas também para assinalar uma eventual mudança de táctica em relação ao seu antecessor, António Costa. Devo dizer que não desconside­ro a táctica enquanto meio ou instrument­o legítimo para se alcançar determinad­os objectivos políticos. Coisa diferente é fazer da táctica política um fim em si mesmo e o único combustíve­l da dialéctica política. Isto geralmente quer dizer que não se tem qualquer rumo definido, nem se sabe para onde se quer ir. Durante os primeiros seis dos seus oito anos de governação, Costa foi o rei do tacticismo político, investindo toda a sua energia e habilidade na manutenção do poder. Quando a maioria absoluta o dispensou dessa necessidad­e permanente de tacticismo­s, Costa não soube o que fazer – e o desfecho foi o que se conhece.

Apesar de dizer o contrário, é óbvio que Pedro Nuno também joga tacticamen­te para se tentar manter à frente do PS até às próximas eleições legislativ­as, que podem não ser tão próximas quanto isso. Foi táctico quando disse que não ia aprovar um orçamento da AD. E é novamente táctico quando, agora, diz que está disponível para aprovar um orçamento rectificat­ivo da AD.

PNS invoca razões programáti­cas e de identidade ideológica para estas tomadas de posição. Mas é evidente que as razões são fundamenta­lmente do campo do mais puro tacticismo político. No primeiro caso, o PS antecipa a sua indisponib­ilidade para viabilizar um orçamento da AD de forma a poder continuar a alimentar dúvidas (e suspeições) sobre uma eventual relação futura do PSD com o Chega. No segundo caso, e estando em causa uma possível acomodação orçamental de medidas que serão populares

O PS vai fazer oposição como governou: a pensar tacticamen­te no que é melhor para si

para o governo que as implementa­r (aumentar os salários dos professore­s, dos polícias, dos profission­ais de saúde e dos oficiais de justiça), Pedro Nuno Santos não quer ficar fora do retrato, mesmo que para isso tenha de aparecer ao lado de André Ventura, que também já se mostrou disponível para dar a sua aprovação a estas medidas. Começa a ficar claro que o PS vai fazer oposição como governou: a pensar tacticamen­te no que é melhor para si, em vez de pensar no que é estrutural­mente melhor para o país.

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