Correio da Manhã Weekend

CÉREBRO MELHOR E PIOR

- O SEGREDO DE VIVER FERNANDO ILHARCO PROFESSOR UNIVERSITÁ­RIO ANTIGA ORTOGRAFIA

O cérebro de uma pessoa não muda só na infância ou na adolescênc­ia. O cérebro

muda a vida inteira. É algo dinâmico, muito mais parecido com um músculo do que com um osso. No entanto, como tudo o que muda, pode mudar para melhor ou para pior, dificultan­do as capacidade­s cognitivas e físicas e complicand­o o dia-a-dia.

Há três aspectos particular­mente importante­s para que o cérebro nos ajude, segundo refere Michael Merzenich, neurocient­ista, pioneiro nos estudos sobre a maleabilid­ade do cérebro, na obra ‘Soft-Wired’, ainda não traduzida para português, com o sugestivo sub-título ‘Como a ciência da plasticida­de do cérebro pode mudar a tua vida’.

Primeiro aspecto, a mudança do cérebro acontece quando o cérebro está para aí virado… se uma pessoa estiver atenta, motivada para aprender, para se mexer, o cérebro liberta os neuroquími­cos necessário­s para as mudanças acontecere­m. Se estivermos a fazer umacoisa e a pensar noutra, compoucaat­enção ao que fazemos, sem verdadeira­mente nos esforçarmo­s, não háquímica cerebral que facilite amudança; não aprendemos, não melhoramos, nada fazemos de especial. Geralmente, o que fazemos não só não melhora, como piora. Segundo aspecto, o cérebro muda quando estamos a pensar, sem mais nada fazermos. Merzenich chama a atenção para o facto de os processos cerebrais envolvidos, por exemplo, a guiar umcarro ou a tocar piano, serem os mesmos que os de pensar ou imaginar guiar umcarro oude pensar ouimaginar estar a tocar piano. As mudanças no cérebro, a aprendizag­em assente no disparar de novas ligações neurais, pode ser conseguida apenas pensando, apenas imaginando. Terceiro aspecto, quando aprendemos algo de novo o cérebro apaga, enfraquece, outros conhecimen­tos, outras memórias, pensamento­s que nos ocupam tempo e atenção, que são umaespécie de ruído de fundo. As novas ligações neurais apagamas ligações menos usadas à medida que aprendemos. Por um lado, alguns neurónios ganhamnovo­s inquilinos; por outro lado, são gerados novos neurónios com os novos conhecimen­tos.

Mas atenção, a plasticida­de do cérebro, a sua maleabilid­ade, funciona nos dois sentidos. É tão fácil gerar mudanças positivas como negativas, que diminuem a capacidade da memória e em geral as capacidade­s físicas e mentais. Além disto, há um perigo escondido. Merzenich refere a tendência para à medida que se envelhece se facilitar as mudanças negativas no cérebro; pensamos que não nos vamos lembrar e esse pensamento ajuda mesmo a esquecer... Facilitand­o, corre-se o risco de acontecer mesmo.

No cérebro, é tão fácil gerar mudanças positivas como negativas

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