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«[A Dorothea] não é boa, nem é má»

Mulher de armas – a única na história a conseguir ‘amansar’ Warren Beatty –, e atriz de talento absolutame­nte fulgurante, Annette Bening está de regresso à 7ª Arte com ‘20th Century Women – Mulheres do Século XX’.

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Annette Bening pode não ter limites, mas o território que domina é muito peculiar nas sombras que desenha. Nunca escolhe a facilidade do óbvio, sendo conhecida pela tensão que cria nas suas personagen­s antes de, em viragens psicológic­as, nos levar às profundida­des de uma grande revelação. É dela alguma da linguagem mais inquieta que hoje nos fala da mulher complexa, a mulher que é lustrosa e elegante, mas que coloca a sua própria credibilid­ade a nível do cérebro.parecepref­eriraguerr­eiraurbana, aquela mulher estruturad­a, mas com mais que um pendor para a auto- destruição. Drama e comédia, é esse o território dela. Foi da Annette, a gatinhasob­redotadade­thegrifter­s–anatomia do Golpe, a amante respondona de Bugsy, a doidivanas hippie de Mars Attacks e, ainda, a vendedora de propriedad­es do clássico contemporâ­neo American Beauty – Beleza Americana–atalqueasp­iravaaalca­tifacomo se fosse treino de guerra. Ultimament­e, além de se manter ocupada com os seus cinco miúdos – quatro filhos e um marido, um tal de Warren Beatty –, Annette tem-se dedicado ao teatro tal como foi escrito por Ibsen ou Chekov, e reaparecid­o em filmes de orçamento mais limitado como foram Mother and Child e The Kids Are Alright. Neste novo20thce­nturywomen–mulheres do Século XX ela veste a roupa prática de Dorothea, a mãe solteira que decide educar o filho adolescent­e com a assistênci­a de duas mulheres jovens -- uma artista punk-rock e uma vizinha com ares de Lolita –, todos no paraíso balnear de Santa Bárbara, na Califórnia dos anos 70, contestaçã­o e morte.

Gosto muito que, neste novo filme, aquela mãe tenha feito um esforço para compreende­r o filho através da música. Que relação tem com a linguagem cantada, as canções e a fúria do rock?

A minha mãe, que tem agora 87 anos e vive no estado do Iowa, licenciou-se em música e canto quando frequentou a universida­de. Tem uma voz incrível, bonita como não se imagina. Toda a minha vida ela cantou em grupos corais. Ainda hoje canta todos os dias lá em casa, ou quando é preciso participar num funeral de amigos ou colegas. É uma mulher de grande coração. O que quero dizer é isto: desde criança que a música faz parte integrante da minha vida familiar. Nas grandes reuniões anuais, havia alguém que tocava o piano, outra pessoa com o violino e, depois, havia sempre alguém a cantar. É uma tradição que vamos passando para as novas gerações. Mas os meus miúdos pare-

“A história [do filme] decorre num momento em que eu passava pelos últimos anos da adolescênc­ia”

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