Destak

«Toda a gente ainda faz pouco de mim»

À boleia da estreia de ‘Lucky Logan - Sorte à Logan’, o impactante Channing Tatum fala sobre a forma como os filmes são feitos, as contradiçõ­es da indústria e de como a relação com a sua mulher está “afinada”.

- JOHN-MIGUEL SACRAMENTO, em Hollywood

Orapaz veio dos anos 80 no Alabama e foi eleito melhor atleta católico numa universida­de de Tampa. Cartões de visita tão especiais como este não surgem com frequência em Hollywood. Soa genuíno, de ser humano como os de antigament­e, com arcaboiço agarrado à terra e aroma de bacon na gola engomada. Nos ecrãs da indústria, é de Channing Tatum o domínio do homem real com laivos de deus tangível – por dentro e por fora. Para além da ginástica que o torso lhe permite perto e longe dos varões de cabaret, a presença tem brotado tão calma e atenciosa que o ator acabou por conquistar, igualmente, o domínio cinemático da alma sensível e romântica. Em filmes como The Vow ou outro qualquer baseado num livro do Nicolas Sparks, o homem encanta do cimo daqueles ombros largos e face benevolent­e. Mas, se estiver a trabalhar para o colaborado­r eterno Steven Soderbergh, cuidado com a energia cómica, carnal e autêntica que consegue desencadea­r. Desta vez a história envolve um assalto. E muita falta de senso. As pessoas do campo são sempre tão divertidas na interação com as máquinas e com as pretensões da modernidad­e.

Vou pressupor que, também para um menino nascido nos confins do Alabama, a ideia de trabalhar em Hollywood venha com uma enorme carga de estilo, pose e dicção. Mas, na vida vulgar de todos os dias, qual foi a situação mais excessivam­ente fotografáv­el e decadente que alguma vez presenciou?

No início da minha carreira, talvez por causa das vantagens fiscais que alguns estados oferecem, o trabalho era quase sempre feito longe de Hollywood. Só mais recentemen­te passou a envolver essa vida que só conhecemos dos livros, da lenda, quando o ator está dias a fio fechado num estúdio de som e imagem. No filme dos irmãos Coen, Avé César!, vi-me pela primeira vez a trabalhar nesse formato. Lá andava eu, nos estúdios enormes da Sony Columbia, vestido com um fato anos 50 e a fazer sapateado como o Gene Kelly. Foi aí que, pela primeira vez, consegui imaginar como era a vida nos anos de ouro. Emergia da minha rulote e ia para as filmagens. Tudo no mesmo perímetro. Senti-me totalmente cool e nostálgico, como se estivesse a partilhar aquele ambiente de outrora, as vielas entre os edifícios, pessoas vestidas e mascaradas de maneira diversa andando por ali, vários filmes diferentes sendo feitos num mesmo espaço criativo.

Que estratégia prefere diante da fama? Lê toda a informação que circula sobre si, de forma a

O melhor, penso, é continuar a viver como se nada estivesse a acontecer. Mas, depois, ainda é preciso gerir os muitos desafios da promoção – neste aspeto, é como se o ator estivesse a jogar com outra identidade totalmente distinta. Sobretudo agora, quando vender um filme parece ser quase mais importante que fazer um filme. Há produtos que,

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