O sentido de algumas vidas
Aminha vida é o PS!», afirmou convicta e galhardamente o Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares ao Expresso. Não tenho qualquer dúvida da sinceridade do testemunho e da sua dimensão afectiva. Aliás, confissão idêntica poderia ser proferida por qualquer outro dirigente de qualquer outro partido com passado e carreira semelhantes. Pedro Nuno Santos e tantos outros “homens de aparelho” têm as vidas enclausuradas nos casulos partidários. Nos quais entraram meninos, militando nas suas organizações de juventude, prosseguiram nas estruturas seniores e chegaram ao Parlamento e ao Governo. As suas vidas são os seus partidos porque nada mais delas fizeram do que seguir uma carreira que os alcandorou a lugares importantes. Os seus mundos são aquelas estruturas de poder e de influência que lhes alimenta ambições. A ele, como a todos os outros que se comprazem com a as lógicas das estruturas dos partidos. Esse é o problema. Os portugueses desejariam ser dirigidos por gente com mundo e com vida que ultrapassasse as sedes partidárias ou os areópagos do poder. Que tivessem passado profissional, cultura, independência intelectual e económica. Que fossem livres e não dependentes das carreiras e dos aparelhos. Que soubessem dizer não e regressar aos seus outros mundos e às suas outras vidas. Essa é a grande revolução que se esperaria dos partidos, tornando-os sintónicos com o quotidiano das pessoas e não amarras dos seus destinos. A política – veja-se as biografias dos grandes líderes – é um exercício de liberdade que só pode ser feita por homens livres. As cangas partidárias representam um ónus pesadíssimo que todos pagamos e que ninguém deseja. Caso o Secretário de Estado – e muitos outros Secretários de Estado de outros Governos – afirmassem que as suas vidas são outras que não os partidos a que pertencem, todos, mas todos, ficaríamos mais confiantes no futuro!
O autor opta por escrever de acordo com a antiga ortografia