Destak

«Nunca tive os medos comuns nas crianças»

Foi o cineasta argentino Andres Muschietti que se atreveu a revisitar “It”, aterroriza­nte novela do mestre do terror, Stephan King. Como se isso não fosse suficiente, ainda deu a Bill Skarsgård o papel do demoníaco Pennywise.

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casa em Estocolmo, porque foi lá que cresci. Não creio que seja boa ideia mudar-me para Los Angeles, um lugar que se encontra sob a influência da indústria visual e que está sempre a mudar a perceção que tens da vida e daquilo que valorizas na tua própria existência. Em Estocolmo tenho os amigos que fiz ao longo do tempo. Tenho a família. As minhas raízes. Há muitos amigos meus que nunca viram os meus filmes. Não estão interessad­os nessas coisas. Acho que isso ajuda-me imenso a manter os pés bem assentes na terra.

Ainda sobre essa infância passada em Estocolmo: lembra-se dos medos que o afligiam? As crianças têm uma relação muito difícil com aquilo que as assusta. Como foi consigo?

Nunca tive um daqueles medos, comuns nas crianças, relacionad­o com aranhas ou cobras. Ou dinossauro­s. Ou monstros e fantasmas. Sei que há medos bem específico­s. Um dos meus amigos, por exemplo, tem um medo terrível de palhaços. Basta mostrarlhe uma fotografia com um palhaço que ele fica logo a sentir ataques de pânico. Nunca senti nada assim. Mas lembro-me de ter seis anos e de ficar deitado na cama, sem conseguir dormir, a pensar na morte. Nunca fui religioso. Nunca acreditei grandement­e na ideia de que há outro tipo de vida para além da morte. Nessas situações sim, tinha medo e crises de pânico.

Que remédio havia nessas situações escuras e solitárias?

O meu pai, uma criatura intensamen­te secular, vinha sentar-se aos pés da cama e dizia-me que não havia razão para ter medo. Garantia-me que, durante e depois da morte, nada de mal me iria acontecer (risos). Isso acalmava-me, realmente. Mas o meu medo não deixava de ser genuíno. Era uma ideia terrível, imaginar que tudo isto iria desaparece­r. Diria que ainda não me sinto completame­nte imune a pensamento­s semelhante­s. Aliás, acho que uma

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