Milhares de atos cirúrgicos adiados
Enfermeiros falam em 6000 cirurgias que foram canceladas; administradores hospitalares garantem que doentes serão acautelados; médicos estão preocupados.
Chega hoje ao fim uma semana de greve dos enfermeiros, sem aparentes sinais de avanço nas negociações entre Governo e sindicatos. Estes profissionais de saúde têm hoje uma última demonstração de força e união, com uma manifestação que poderá terminar em frente ao Parlamento.
Com os efeitos para os doentes por contabilizar, o Sindicato dos Enfermeiros (um dos dois que organizou o protesto, enquanto um terceiro ficou de fora) avança que seis mil cirurgias de rotina foram adiadas, o que dá uma média de 80 a 90 ator cirúrgicos que ficaram por realizar em cada grande hospital. Sem apontar um número concreto, a Associação dos Administradores Hospitalares admitiu que foram adiadas «centenas» de cirurgias.
«Os hospitais vão resolver os problemas destes doentes assim que puderem», garantiu à Lusa o presidente daquele organismo. Ainda assim, o bastonário dos Médicos admitiu «alguma preocupação». «Naturalmente que as greves têm sempre algum prejuízo lateral para os doentes», explicou Miguel Guimarães, que apela a um acordo entre as partes.
O responsável pede um entendimento «equilibrado dentro das possibilidades do país», apontando uma «remuneração melhor» dos enfermeiros especialistas como uma das reivindicações justas. Só que, tudo indica, esta será uma das áreas onde um compromisso será mais difícil de atingir. Até porque, nas contas do Governo para o próximo ano, já está incluído um maior gasto com a classe.
Trata-se do descongelamento das carreiras na Função Pública. Os enfermeiros são uma das 40 classes que vão ser abrangidos pela medida que vai entrar em vigor com o Orçamento de Estado de 2018. Segundo um relatório do Ministério das Finanças, 27 584 enfermeiros não são avaliados desde 2010, ficando ‘congelados’ profissionalmente. Alterar essa realidade custa 23 milhões de euros.